segunda-feira, abril 16, 2007

Sonhos Traídos Na UNI

Quando escolhemos uma universidade para a frequência de um curso superior, fantasiamos em fazê-lo com alguma dificuldade; terminá-lo em tempo útil; ir ao mercado de trabalho; fazer referências orgulhosas da casa que nos formou; recordar com saudade os verdes anos que deambulamos aflitos pelos corredores, bem como das amizades que aí floresceram, dos amores que nos acompanham e daqueles cujos rastos se perderam, entre tantas outras páginas abertas e fechadas em busca do canudo. Depois do curso, arquitectamos voltar à “nossa escola” para uma pós-graduação; para proferir uma conferência ou, simplesmente, para levantar um certificado. Mas, nem sempre a vida é uma linha recta…
Entrar na faculdade é hoje aspiração legítima de muitos jovens, tal como ir ao altar com véu e grinalda já foi o sonho de qualquer mulher. Porém, depois de muito estudo (primário e secundário), de muito esforço financeiro (da família), o aluno entra na faculdade – para um novo mundo – dá o melhor de si para aprovar nas cadeiras; sente o clima da escola a cheirar a desorganização; ouve nos corredores conversas pouco abonatórias sobre a continuidade do seu curso e futuro; a imprensa e a opinião pública a descobrirem, a cada dia e minuto, a caixinha de Pandora que é a instituição que tem administradores presos e outros, certamente, por prender, cujo alicerce e identidade é duvidoso – e começa, então, a indagar sobre o sonho de acabar o curso a tempo e horas, de trabalhar e amortizar o investimento.
Assim deve estar a sentir (traídos) os actuais estudantes da Universidade Independente (UNI) – que Mariano Gago mandou encerar, compulsivamente na semana passada, na sequência de auditorias que apontam a existência de “manifesta degradação pedagógica”. A decisão de Gago analisada a pente fino revela-se, por um lado, justa para com a empresa que detêm a UNI – a SIDES – que se encontra no cerne de múltiplas investigações de foro criminal e, por outro, injusta para com os alunos – vítimas “inocentes” das trapalhadas da instituição: só querem o canudo!
No cômputo geral, o país e o ensino superior português só têm a ganhar com o fecho da UNI. Servirá de bode expiatório e de exemplo a não seguir pelos seus congéneres nos próximos milénios. Facturar (ou seja, amealhar as propinas) é indispensável à sobrevivência, mas o prestígio de uma Universidade é, ainda, um valor acrescentado para o diploma que emite com a sua marca (que se espera de excelência). Foi este, justamente, o erro da UNI: manchar o seu bom-nome.
Relativamente aos alunos (sobretudo os do último ano), o Edukamedia aconselha-os, vivamente, a mudarem de instituição. Vale a pena pensarem, duas vezes, nas vantagens de apresentar ao empregador um diploma emitido por uma instituição trapalhona, moribunda ou mesmo cadáver! Segundo o DN, as portas da universidsade vão fechar no final deste semestre e muitos alunos já deixaram de ir às aulas. Devem estar a fazer contas à vida; a pensar nas mensalidades; no “ouro entregue ao bandido” e nos sonhos por ora traídos…numa mudança inesperada do trajecto para o fim desejado. Boa sorte!

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No Princípio Era a Educação...

No balanço de um ano dos “Roteiros para a Inclusão”, o presidente da república portuguesa, Aníbal Cavaco Silva apontou, no sábado último, em Santarém, o dedo às causas da exclusão social em Portugal: a pobreza e as baixas qualificações. Quanto à primeira, foi apresentada um estudo que explica a ineficácia das políticas e medidas remediativas utilizadas no seu combate; em relação à segunda, reconheceu-a como um dos grandes problemas do país, algo aliás já salientado por António Guteres, Jorge Sampaio, José Sócrates e, de uma forma geral, pela generalidade dos portugueses preocupados.
Para marcar a diferença, o professor de economia, devia, quanto a mim, desafiar e patrocinar (publicamente) a criação de um consenso alargado no sentido de aumentar com soluções sérias a qualificação dos portugueses. Para esse efeito, a elaboração de uma estratégia consertada e de longo prazo – 20 anos – com metas quantificadas e avaliação regular, seria uma proposta sensata e pertinente.
Num país com ausência de hábito de planeamento, o caminho aconselhável é aprender com os mais experientes e corajosos. Um exemplo humilde de educação comparada é a Irlanda. Este investiu de forma inteligente na Educação, nas três últimas décadas e só agora está a ver os louros, ou seja, o retorno do investimento. Por esta razão, tem recebido elogios merecidos; e foi, de resto, um dos países (da união europeia) que melhor soube canalizar os rechonchudos fundos comunitários. Na mó de baixo está Portugal: as reformas (remendos) obedecem a lógicas eleitoralista: tapa buracos; o diagnóstico é (re)conhecido, mas a cura sempre adiada; gosta de fazer parte do problema e não da solução; prefere reinventar constantemente a roda, enquanto a carcaça continua a merecer arranjo.
Dizia um sábio Chinês a 3000 anos a.c: se planeares por um ano, semeia trigo; se planeares por dez anos, planta árvores; se planeares por uma vida, forma e educa as pessoas. Essa frase continua actual e, por isso, o caminho para o desenvolvimento foi ontem, hoje e sempre – a Educação. No princípio não era o discurso…era a educação.

quarta-feira, abril 11, 2007

Uma Verdade Conveniente

A isenção de impostos sobre equipamentos (importados) para a produção de energias limpas em Cabo-verde está prevista no Orçamento Geral do Estado Cabo-verdiano para 2007, segundo informações recentes avançadas pelo jornal A Semana (on-line). Esta medida inédita constitui um incentivo ao aproveitamento de duas fontes de riqueza bastante menosprezadas nas ilhas da morabeza: o sol e o vento. O Edukamedia gostou da novidade e, por isso, decidiu teclar sobre esta verdade conveniente.
Qual é o motivo para esta moda de “energia limpa”, ou seja, não poluente? Na procura de resposta, a primeiro motivo que nos ocorre, quando ligamos a televisão, é o preço elevado e inconstante do crude nos mercados internacionais e, em segundo lugar, o aquecimento global* – o mostro responsável directo pelas catástrofes naturais como furacões (género Katrina), El Niño (que alagou Moçambique há cinco anos) e o alastramento da seca em alguns países. O primeiro empata o crescimento económico e o segundo compromete a segurança das gerações futuras, ao mesmo tempo que agudiza, no presente, as desigualdades entre países ricos (poluentes) e pobres (vítimas da poluição).
Voltando às ilhas de Cabo-verde, uma análise atenta das suas condições naturais, nos conduz a um sentimento de revolta pelo desperdício do vento que sopra 24 horas por dia – em todas as montanhas e “cutelos” do arquipélago – e do sol que faz as suas aparições diárias e milimétricas (dia sim, dia sim). O astro rei tem servido, unicamente, de chamariz aos turistas que procuram zonas balneares com águas normas e cristalinas, enquanto que na mó de baixo se encontra a força incansável do vento: que só levanta as poeiras, para o mal dos nossos pecados. Apesar de ter registado nos anos 90, uma onda de electrificação rural e urbana, sem precedentes; volvidos uma década e meia, pouco podemos orgulhar da nossa capacidade de produção enérgica, sobretudo, na capital do país. Nesta, os apagões e os cortes sistemáticos de electricidade enfurecem os empresários, enraivecesse os consumidores domésticos e colocam a Electra (produtora e distribuidora de energia eléctrica) e o governo na corda bamba.
Relativamente ao aproveitamento dos recursos naturais como motor de desenvolvimento, pouco ou nada de relevante foi feito. Foi com surpresa que ontem li uma “notícia” sobre uma certa ERCV (Energias Renováveis de Cabo-verde), mas notei, pela reacção dos leitores, que ninguém a conhece ao certo. O jornal liberal, diz, por exemplo, que a mesma nasceu em Fevereiro de 2006, na sequência do Decreto-lei 54/99 – que liberaliza a produção da energia em Cabo-verde. A verdade é que esta empresa anda num diferendo (público) com a Electra (empresa do Estado). Segundo o dito jornal, a ERCV diz que a energia que produz custa 15 escudos por Kilowatt-hora e a produzida pela Electra fica a 24, na mesma unidade da moeda. Enfim, a empresa embrionária quer lutar por “um lugar ao sol”, a outra quer preservar o seu monopólio… a fazer fé no que diz a notícia.
Em jeito de finalização, auxiliado um pouco pelas palavras de Emanuel Kant, a iniciativa do governo cabo-verdiano (de isenção de impostos sobre ventoinhas e painéis solares) constitui “o despertar de um sono dogmático” de três décadas. Contudo, a questão da energia (eólicas e foto-voltaicas) é fundamental para o desenvolvimento sustentado de um país e, por essa razão, deve haver uma estratégia consertada para o seu aproveitamento. A este respeito devemos aprender com os Estados Unidos, Dinamarca, Brasil, Espanha, onde a aposta é forte. Importa frisar que uma das críticas comuns sobre a produção de energia limpa, sobretudo eólica, era o seu elevado preço, mas este tem caído acentuadamente nos últimos anos (cerca de um quinto de 1990 para 2005). O maior custo continua a ser a instalação, mas a manutençao é, praticamente, a custo zero, segundo dados da Wiképia.
Tomar essa decisão trinta anos após a independência revela alguma inteligência... assim se escreve, ainda que de forma lenta, os capítulos da história do milagre cabo-verdiano…
* Uma leitura aconselhável e pertinente sobre o aquecimento global (e formas de o inverter) é a revista TIME do dia 9 de de Abril de 2007.

segunda-feira, abril 09, 2007

Morte Anunciada da UNI

O ministro português da Ciência, Ensino Superior e Tecnologia, Doutor Mariano Gago, acaba de anunciar a decisão (provisária) de encerar compulsivamente a Universidade Independente (UNI). O ministro fundamenta a sua decisão nos relatórios das auditórias feitas à universidade privada - que funciona com o aval do Estado - que apontou sinais claros de degração pegagógica [Ler notícia]. Recorda-se que a UNI tem estado, neste último ano, debaixo do fogo cruzado de várias investigações, sobretudo, do foro criminal que culminou, recentimente, com a prisão preventiva de dois dos seus administradores. Recai sobre eles, acusações de lavagem de dinheiro, gestão danosa, falsificações de documentos (entenda-se atribuições de diplomas em condições dúbias).
Na UNI estudam cerca de 2000 alunos e uma percentagem signficativa destes, pertence aos Países Africanos de Lingua Oficial Portuguesa (PALOP´s).
Esta notícia já esperada, surge numa altura em que, por coincidência (??), o processo de equivalência e a consequente atribuição, em 1996, do diploma, em engenharia civil, ao cidadão José Sócrates, actualmente, primeiro ministro português é tema de conversa provinciana e manobras políticas. A este respeito, a sic notícias vai fazer, amanhã, terca feira, às 22h30, um programa sobre a licenciatura do primeiro ministro, em engenharia civil, anticipando-se a ida deste, na quarta feira, à RPT1, onde fará um balanço dos dois anos do seu governo.
Enquanto o país aguardava o desenvolvimento do caso UNI e da quebra do silêncio de Sócrates, nesta tarde, Luis Miranda Correia, um conceituado investigador na área da Educação Especial, numa carta aberta derigida à ministra de educação, Maria de Lurdes Rogrigues, acusa esta governante de estar a ignorar cerca de 70 mil alunos com Necessidades Educativas Especiais. Invocando David Rodrigues - o coordenador do Fórum de Estudos de Educação Inclusiva (FEEI) que reúne 18 instituições de ensino superior - o académico salienta que a política actual levada a cabo pelo Ministério da Educação (ME), no âmbito do NEE, "contraria todo o conhecimento nesta matéria e [os] documentos internacionais" [Ler mais]

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quarta-feira, abril 04, 2007

Uganda da Nossa Consciência

Edukamedia foi à sala de cinema ver O Último Rei da Escócia – uma viagem de 121 minutos ao Uganda dos anos 70, época em que um militar carismático e populista, Idi Amim Dada (Forest Whitaker) chega ao poder, prometendo criar mais escolas, hospitais e um grande país – ancorado na paz, na liberdade e no poder negro. Nessa mesma altura, por coincidência, chega ao interior deste país africano, à procura de aventura, um jovem médico escocês, Nicolas Garrigam (James Mc Avoy), acabado de sair da faculdade, que torna médico e conselheiro chegado do recém presidente (enroupado de militar). Apesar dos (bons) conselhos, Amim Dada demonstra a imagem de um hipócrita, déspota, sanguinário e psicopata que responde, de forma musculada, a qualquer indício de violência, traição e oposição ao seu regime.
Cerca de 300 mil almas não aguentaram à dureza dos nove trágicos anos em que o homem que fora criado pelos militares britânicos traiu a esperança do seu povo, enquanto a história, nomeadamente, as Nações Unidas, assistia a tudo, impávida e serena.
Pela sequência dos acontecimentos (publicações, cada vez mais, demolidoras sobre a figura do presidente Ugandês, na imprensa estrangeira e a consequente fuga do Dr. Nicolas Garrigam), o telespectador conjectura o fim da ditadura, algo que é anunciado, sem imagem, no final do filme: Amim Dada foi deposto em 1979 e morreu, em 2003, na Arábia Saudita.
O filme comove o telespectador, pela clivagem existente entre o interior (de Uganda), pobre e a cidade, imponente; pela frieza e brutalidade como um africano põe o fim à vida de um irmão; pela simplicidade e alegria estampada nos rostos negros de homens e mulheres que se emocionam só de ouvir falar em escolas, hospitais e na história de África, ou seja, numa utopia possivel.
O Último Rei da Escócia nos leva a mão à cabeça, não só pela sequência brutal das imagens de carnificina numa África dos anos 70, mas também, pela consciência de que esse passado é, ainda, infelizmente, presente em muitas paragens do mesmo continente. Darfur, no Sudão, constitui, apenas, um dos inúmeros exemplos. Por isso, o telespectador, principalmente, africano ou “cidadão do mundo”, deixa a sala de cinema silencioso e mais pesado, consciente de que é preciso fazer algo, arregaçar as mangas, uma vez que o caminho a percorrer é longo… espinhoso, mas necessário.
Ajudar a construir escolas, hospitais, postos de trabalho, em África; incentivar as crianças a ler e a contar histórias do Egipto, Shongai, Monomotapa, Nbanza Congo, enquanto aprendem matemática, física, química, biologia, far-nos-à sentir mais leves – a corrigir o passado,com os olhos postos no futuro.
Nota: Forest Whitaker, um afro-americano do Texas foi distinguido com a estatueta de melhor actor pela academia de Hollywood, devido à sua interpretação brilhante e assustadora. O Edukamedia aconselha, também, uma espreitadela aos Dreamgirls, onde Jennifer Hudson numa exibição de luxo foi premiada com um oscar de melhor actriz secundária.

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