sexta-feira, junho 17, 2005

O último Dinossauro

Afinal, quem foi verdadeiramente Álvaro Cunhal? Um cidadão exemplar ou um monstro? Decorrido quase uma semana apôs o seu desaparecimento físico, com a comunicação social portuguesa, a dar-lhe o maior destaque, em especial a coerência do seu carácter, o seu percurso político, chegando mesmo a considerar-lhe como um dos mais proeminentes políticos do Portugal do século XX, no entanto, eis que me surgiu uma dúvida.
Será que Vasco Pulido Valente, na sua coluna no Jornal Público, edição de 17 de Junho, intitulado Portugal não se respeita, tem razão, ao afirmar que o autor do Até Amanhã Camaradas não mereceu o tratamento especial que lhe foi dado, após a sua morte pelo povo português, nomeadamente, pelos mais altos representantes do Estado Português, como o Sr. Presidente da República, o Sr. Primeiro-ministro e o Sr. Presidente da Assembleia da República?
O colunista justifica a sua tese, fazendo referência à cegueira e frieza de Cunhal face aos horrores do Socialismo, nomeadamente, aos milhares de mortos atribuídos aos comunistas soviéticos, ao genocídio, à escravidão e à miséria dos povos do império que, à luz da religião do comunista português, o Leninismo e Estalinismo, justificava tudo.
Sempre li que Álvaro Cunhal foi um comunista fanático, que sofreu agruras no combate ao fascismo, inclusivé prisões e torturas; que defendeu o direito a autodeterminação das ex-colónias portuguesas; que lutou pelo “proletariado”, entre outros aspectos. Mas hoje questionaram as minhas fontes literárias… não sei se, com razão ou não?
É certo que o fanatismo não é uma grande qualidade, uma vez que torna a pessoa cega… mas, num Portugal onde nada é constante, do discurso oficial ao informal, da política, à economia, passando pela educação e pela cultura, não será Álvaro Cunhal o último Dinossauro?
Albino Tavares