terça-feira, junho 27, 2006

A cooperação Espanha-Cabo verde em análise

O ministro dos Asuntos Exteriores e de Cooperação da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, encontra-se em Cabo verde para uma visita de dois dias, segundo informações adiantadas, hoje, pelo asemanaonline.
O objectivo da deslocação do membro do governo de Zapaterro visa a discussão, com as autoridades do Palácio da Varzea, de algumas áreas de cooperação, importantes para a Espanha, caso, por exemplo, da segurança e das migrações.
O quadro de cooperação institucional entre os dois governos tem sido frutífero, para Cabo verde, sobretudo, nas áreas da educação de adultos, dado à ajuda preciosa dos expert do arquipélago das Canárias. Do lado espanhol, diz-se, actualmente, à "boca pequena" que há interresse deste país em tirar partido da posição previlegiada do pequeno arquipélago da costa ocidental africana para a implementação de uma estratégia mais eficaz no combate à emigração ilegal da África para a Europa.
No entanto, tudo parece ter a sua lógica. No momento em que a Nato está a fazer (ou a finalizar) os exercícios militares em terreno crioulo, faz todo sentido a discusão sobre a segurança e migrações num mundo globalizado. A dúvida, porém, consite em saber se estão preocupados com a segurança dos cabo-verdianos ou com a dos países membros da Nato?
A dúvida fica no ar. Quem sabe numa visita do ministro dos negócios extrangeiros de Cabo verde à Espanha ou à sede da NATO a questão possa vir a ser esclarecida?

quinta-feira, junho 22, 2006

Poilão entra para a história de Cabo-verde

No mês de Julho Cabo-verde inaugura a sua primeira barragem. Foi esta a indicação deixada, hoje, pelo ministério da agricultura, no âmbito da visita de imprensa à Barragem de Poilão, na localidade de Ribeira Seca, ilha de Santiago. Notícia avançada pelo jornal asemanaonline.
O referido equipamento constitui a maior infra-estrutura de mobilização de água de Cabo-verde e nasceu do esforço conjunto da Câmara Municipal de Santa Cruz e do governo de Cabo-verde, com o apoio da República Popular da China. Para os municípios de Santa cruz e São Lourenço, o funcionamento da barragem de Poilão vai trazer uma nova dinâmica aos campos agrícolas e, consequentemente, à economia local. Depois de trinta anos a combater a desertificação pela via da construção de diques (fonte de erosão dos solos) e arretos, finalmente, um governo decidiu inverter o cilclo e apostar numa infra-estrutura estruturante para o país.

domingo, junho 18, 2006

Resgatar a confiança roubada

O Gana venceu a República Checa e tornou-se na primeira selecção africana a triunfar airosamente na Alemanha. Antes, Angola, ou melhor, os "palancas negras", já tinham medido forças com o México e o resultado foi um nulo para ambos os lados, mas com um sabor especial para a equipa africana.
O resultado do confronto AngolaxMéxico abriu uma nova esperança para a selecção da África austral. Deste modo, poderá Angola com alguma sorte (inspiração de Akua ou Mantoras) e ajuda das forças ancestrais (dos deuses negros) golear o irão e, caso Portugal vença o México, na quarta-feira, pode qualificar-se para os oitavos de final, a partir do goal overage. São possibilidades matemáticas, com certeza, mas, também, sabe-se que o povo mártir de Angola precisa de ganhar a auto-estima e recuperar o orgulho nacional roubado pelos canhões e tanques de guerra durante 30 anos nas matas angolanas. Por isso, nada melhor que utilizar a bola para recuperar a confiança perdida e unir uma nação sedenta de vitórias.
Até ao presente momento, as selecções africanas presentes no mundial, na Alemanha, a saber: Angola, Costa de Marfim, Togo, Tunísia e Gana praticaram um bom futebol. Angola perdeu com Portugal, com dignidade, por uma bola a zero e empatou com o México; a Costa de Marfim perdeu dois jogos, sempre com um bom futebol, embora sem a pontaria necessária dos avançados; o Gana venceu a selecção de Milam Barros; A Tunisia conseguiu um empate contra a Arábia Saudita; o Togo, infelizmente, preocupou-se mais em discutir os prémios de jogo do que o próprio jogo, ressuscitando deste modo, a triste figura de Portugal, em 2002, no mundial Corea-Japão. Fica, porém, o exemplo para outras selecções africanas que têm pretensões de estar presentes na África Sul, em 2010: primeiro joga-se, apresentando os argumentos do futebol africano, depois os prémios virão, por acréscimo.
No texto anterior, Um orgulho para todos nós, foi feito um apelo aos árbitros no sentido que serem profissionais e de não penalizarem as selecções ditas não favoritas que se encontram na Alemanha, caso das selecções africanas. Até ao momento, final da primeira fase, não houve razões de queixa, o que é, portanto, de louvar. Esperemos que assim seja até ao levantar da taça mais prestigiada do momento. Já agora uma pergunta: quem acha que vai ganhar este mundial?

domingo, junho 11, 2006

Um Orgulho Para Todos Nós

Estamos a poucas horas do arranque do campeonato do mundo para as selecções que têm o português como língua oficial: Angola, Brasil e Portugal. A sorte ditou que hoje Angola tenha como adversário Portugal. Estes dois povos demonstraram até agora elevação na vivência do espírito desportivo.
Em Portugal, fala-se, por um lado, do favoritismo da selecção das quinas e, por outro, do brio e da motivação dos "palancas" negras em contrariar àqueles que achem que o jogo, mesmo antes de começar, já está ganho.
A qualificação de Angola para o campeonato do mundo surgiu num momento propício da sua história, no período do relançamento económico e após décadas de guerra cívil. Por isso, só a presença na Alemanha já é uma vitória: ver os angolanos alegres e felizes constitui um orgulho para todos nós.
O nosso optimismo em relação às selecções que participam pela primeira vez num campeonato do mundo é moderado: podem, por um lado, não ganhar nenhum jogo e, por outro, fazerem boa figura, caso do Senegal no mundial de 2002, Coreia-Japão, que venceu o campeão mundial em título, a França. Partindo desta lógica de imprevisibilidade, pode-se esperar tudo das selecções teoricamente mais fracas: entre mediocridade e a excelência.
Este texto pretende enaltecer as boas iniciativas que têm vindo a ser desenvolvidas na sequência do embate PortugalxAngola. Sem a pretensão da exaustividade, quero destacar a iniciativa conjunta da RTP África, RDP África e da Câmara Municipal de Lisboa que decorreu na passada Sexta-feira, dia 09, na praça da figueira, em Lisboa. Os artistas angolanos deram banho de música aos admiradores dos "palancas", sempre com respeito pela experiente selecção portuguesa e pelos laços históricos que unem os dois povos.
Para finalizar esta comunicação, deixo uma nota aos árbitros para que sejam isentos e profissionais; que não prejudicam sistematicamente "as selecções não favoritas" presentes no mundial, como tem sido hábito. Nota-se que as injustiças do apito geram revoltas pouco abonatórias para a convivência pacífica e para a confraternização entre culturas que, depois do aspecto económico, constitui o maior desígnio da prova organizada pela Federação Internacional de Futebol (FIFA).
Às selecções presentes na Alemanha, particularmente às dos três países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) vai um voto de boa sorte e que dêem o melhor de si para a elevação da cultura desportiva e da fraternidade lusófona.

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quinta-feira, junho 01, 2006

O (efeito) Pigmaleão na Sala de Aula

O Pigmaleão é uma figura da mitologia grega. Foi um exímio escultor que, segundo a mitologia, conseguia com a sua mestria dar o sopro da vida aos objectos esculpidos. Na educação a sua figura é utilizada como analogia ao poder que se atribui aos educadores, sobretudo, aos professores de operarem autênticos prodígios nos alunos ao comunicarem-lhes expectativas positivas de realização escolar.
Em 1968 foi publicado por Rosental e Jacbson uma obra clássica, o Pigmaleão nas Escolas. Neste livro, o objectivo dos autores foi de relançar uma discussão muito pertinente na educação, sobre o papel e a importância dos professores na relação pedagógica. Tentaram explanar que as expectativas dos professores quando transmitidas (de forma implícita ou explicita) aos alunos influenciam a sua forma de comportamento. Neste sentido, a expectativa positiva de sucesso formulada aos alunos ditos “fracos” acabava por se materializar num elevado rendimento escolar e que, pelo contrário, a expectativa negativa comunicada aos alunos ditos “excelentes”, afectava negativamente os seus rendimentos escolares.
Consequentemente, pode-se questionar se caso o efeito pigmaleão fosse verdadeiro e os professores dele tivessem conhecimento não haveria tanto insucesso nas escolas? Nada de ilusões: a investigação diz que o seu efeito é moderado. Porém, o mais importante é a compreensão da forma como os professores comunicam (por palavras ou gestos) as suas expectativas aos educandos e estes captam a mensagem e se deixam influenciar, positiva ou negativamente conforme o seu teor.
As tentativas de explicação à questão atrás formulada foram múltiplas. A investigação ilustra que os professores interagem com os alunos de forma diferenciada, consoante as expectativas (positivas ou negativas) que neles depositam. Na lista da interacção diferenciada professor/aluno encontram-se: tempos distintos concedidos aos alunos para responderem às questões; o tempo dedicado à interacção professor versus alunos; o tipo de reforços (apropriados ou não) dados aos alunos; o grau de exigência dos professores para com os alunos; e a confiança versus desconfiança depositada nos resultados obtidos pelos alunos nos testes, entre outros aspectos.
Como é da constatação geral, as escolas estão apinhadas de alunos oriundos de classes sociais com parco capital cultural, fruto da massificação da educação. Essa realidade impõe, particularmente, aos professores o desafio de atenuarem o efeito da violência simbólica e da reprodução das desigualdades sociais, enquanto mecanismos geradores de insucesso e de frustrações nos alunos e seus progenitores. O reconhecimento de que “o professor é a mensagem” e que a sua interacção na sala de aula é altamente selectiva constitui uma via privilegiada de mudança do seu padrão comportamental numa altura em que a educação se encontra debaixo do fogo cruzado do eduquês.