quinta-feira, junho 01, 2006

O (efeito) Pigmaleão na Sala de Aula

O Pigmaleão é uma figura da mitologia grega. Foi um exímio escultor que, segundo a mitologia, conseguia com a sua mestria dar o sopro da vida aos objectos esculpidos. Na educação a sua figura é utilizada como analogia ao poder que se atribui aos educadores, sobretudo, aos professores de operarem autênticos prodígios nos alunos ao comunicarem-lhes expectativas positivas de realização escolar.
Em 1968 foi publicado por Rosental e Jacbson uma obra clássica, o Pigmaleão nas Escolas. Neste livro, o objectivo dos autores foi de relançar uma discussão muito pertinente na educação, sobre o papel e a importância dos professores na relação pedagógica. Tentaram explanar que as expectativas dos professores quando transmitidas (de forma implícita ou explicita) aos alunos influenciam a sua forma de comportamento. Neste sentido, a expectativa positiva de sucesso formulada aos alunos ditos “fracos” acabava por se materializar num elevado rendimento escolar e que, pelo contrário, a expectativa negativa comunicada aos alunos ditos “excelentes”, afectava negativamente os seus rendimentos escolares.
Consequentemente, pode-se questionar se caso o efeito pigmaleão fosse verdadeiro e os professores dele tivessem conhecimento não haveria tanto insucesso nas escolas? Nada de ilusões: a investigação diz que o seu efeito é moderado. Porém, o mais importante é a compreensão da forma como os professores comunicam (por palavras ou gestos) as suas expectativas aos educandos e estes captam a mensagem e se deixam influenciar, positiva ou negativamente conforme o seu teor.
As tentativas de explicação à questão atrás formulada foram múltiplas. A investigação ilustra que os professores interagem com os alunos de forma diferenciada, consoante as expectativas (positivas ou negativas) que neles depositam. Na lista da interacção diferenciada professor/aluno encontram-se: tempos distintos concedidos aos alunos para responderem às questões; o tempo dedicado à interacção professor versus alunos; o tipo de reforços (apropriados ou não) dados aos alunos; o grau de exigência dos professores para com os alunos; e a confiança versus desconfiança depositada nos resultados obtidos pelos alunos nos testes, entre outros aspectos.
Como é da constatação geral, as escolas estão apinhadas de alunos oriundos de classes sociais com parco capital cultural, fruto da massificação da educação. Essa realidade impõe, particularmente, aos professores o desafio de atenuarem o efeito da violência simbólica e da reprodução das desigualdades sociais, enquanto mecanismos geradores de insucesso e de frustrações nos alunos e seus progenitores. O reconhecimento de que “o professor é a mensagem” e que a sua interacção na sala de aula é altamente selectiva constitui uma via privilegiada de mudança do seu padrão comportamental numa altura em que a educação se encontra debaixo do fogo cruzado do eduquês.

2 Comments:

At sexta-feira, 19 fevereiro, 2010, Anonymous Anónimo said...

Adorei o texto pois é muito verdadeiro.

 
At terça-feira, 23 fevereiro, 2010, Blogger Albino Luciano Tavares Silva said...

Obrigado pela visita e pela consideração sobre o texto efeito pigmaleão. Volte sempre!

 

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