quarta-feira, abril 05, 2006

De Volta à África

O primeiro-ministro português, o eng.º José Sócrates, partiu para Angola, no dia 04 de Abril, acompanhado por uma comitiva composta por 70 individualidades portuguesas (da área financeira e da construção civil). O objectivo desta visita, segundo os meios de comunicação social, visa estreitar as relações económicas com este país da África austral, antiga colónia portuguesa.
Para lá das questões formais e protocolares, o propósito essencial dos empresários e do governo de José Sócrates é disputar com as empresas chinesas e sul-africanas, as potencialidades da riqueza fácil que o país de Agostinho Neto oferece.
O final da guerra civil; o crescimento económico, na ronda dos 20%, anuais; o elevado preço do crude no mercado internacional; a facilidade de corrupção, entre outras condições, constituem as janelas de oportunidades para a exploração de Angola (entenda-se, de uma forma eufeminizada, do seu mercado). Para as empresas que pouco preocupadas estão com o efectivo desenvolvimento do país onde investem, o mercado angolano há muito tempo que tem sido a presa apetecível para matar a fome insaciável dos corruptos e capitalistas estrangeiros.
O exemplo do domínio da Portugal Telecom e da EDP, em Cabo-verde, nas empresas Cabo-verde Telecom e Electra, sucessivamente, constituem, apenas, dois exemplos de como as empresas da terra do Sr. Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral se aproveitam, sem escrúpulos, dos países em crescimento para os (re) colonizar (economicamente), à custa do lucro fácil. Neste momento, as antenas estão voltadas para Angola:uma prioridade nacional, diz Sócrates.
Esta nova forma de colonialismo, fruto da globalização, encontra-se camuflada nos projectos de cooperação, nas ajudas públicas ao desenvolvimento; onde se aplica, perfeitamente, o princípio jurídico de que tudo tem um preço. O pagamento das dívidas externas, bem como dos juros das “ajudas públicas ao desenvolvimento” ou empréstimos são apontados como um dos factores que mais contribuem para afastar os países do Sul dos do Norte. Por outras palavras, é esta a razão pelo qual os países subdesenvolvidos ou ditos periféricos nunca se libertarão do laço que os prende aos países ditos ricos (antigas ou novas potências colonizadoras). Por isso, o atraso do sul é inevitável.
No momento que escrevo estas linhas, os habitantes de Angola devem estar alegres, felizes com a presença dos 70 portugueses; nos media, as notícias, provavelmente, só se resumem a este acontecimento; todos devem estar curiosos para verem o primeiro-ministro português a fazer jogging na marginal de Luanda. Tudo isso parece uma festa; para mim, não passa de uma tragédia grega. Três décadas após a independência política, seis séculos depois da expansão marítima, os portugueses estão de volta à África...