quarta-feira, abril 19, 2006

Viajar na Estrada: entre a necessidade e o medo

Quando estou no comboio, à caminho das terras do Sado, imagino como são as planícies alentejanas, as praias do Algarve, os camonis de albufeira, o zoo marine, a ilha da culatra, entre outros encantos. Na véspera da Páscoa tive a alegria de viajar rumo ao Sul.
A viagem foi longa e tranquila; com os olhos postos no vidro do carro, aprecei tudo quanto era agradável à vista desarmada. No entanto, o meu íntimo estava cheio de medo, devido aos acidentes que vitimam todos os dias quem anda na estrada e cujo cenário é aumentado, pela comunicação social, sobretudo, na época das grandes festas. Contudo, disfarcei muito bem o meu receio e, por isso, ninguém deu por ele.
A viagem “rumo ao sul”, roubando a expressão de Miguel Sousa Tavares, não serviu para dissipar totalmente a minha curiosidade em relação à região sul, mas foi um primeiro passo nessa direcção.
Na altura do regresso à casa, e após ter tomado conhecimento do fatídico acidente que vitimou o jovem actor Francisco Adam, celebrizado pela série televisiva Morangos com Açúcar, mais uma vez, a minha fobia de andar na auto-estrada aumentou. Esse acontecimento, entristeceu, não só, os jovens com epíteto de “geração morangos com açúcar”, mais também, todos àqueles que, como eu, partilham da opinião de que os acidentes nas estradas portuguesas, constituem uma verdadeira guerra civil, com muitas baixas diárias.
Todavia, gostaria de salientar um facto digno de registo na sequência da morte deste actor. Estava junto com alguns adolescentes quando soube do ocorrido e constatei que o sms, via telemóvel, terá sido, provavelmente, até à hora dos (tele) jornais da noite, a fonte mais eficaz de informação entre os jovens. O que vem dar, uma vez mais, razão a Castels e Mcluhan sobre a ideia da sociedade em rede e do papel dos self media, enquanto meios de difusão massificada da mensagem.
A comunicação social acabou por fazer zoom do desaparecimento físico do jovem actor (embora, morra todos os dias o Zé povinho), e retomou a discussão sobre a representação morte na adolescência. Alicerçou, contudo, a ideia que de falar sobre o acontecido constitui uma forma pedagógica de educar para os perigos de andar na estrada.
Viajar na estrada tornou-se uma necessidade e um prazer, cada vez mais, alimentado pelo medo do risco do não regresso.