quarta-feira, abril 11, 2007

Uma Verdade Conveniente

A isenção de impostos sobre equipamentos (importados) para a produção de energias limpas em Cabo-verde está prevista no Orçamento Geral do Estado Cabo-verdiano para 2007, segundo informações recentes avançadas pelo jornal A Semana (on-line). Esta medida inédita constitui um incentivo ao aproveitamento de duas fontes de riqueza bastante menosprezadas nas ilhas da morabeza: o sol e o vento. O Edukamedia gostou da novidade e, por isso, decidiu teclar sobre esta verdade conveniente.
Qual é o motivo para esta moda de “energia limpa”, ou seja, não poluente? Na procura de resposta, a primeiro motivo que nos ocorre, quando ligamos a televisão, é o preço elevado e inconstante do crude nos mercados internacionais e, em segundo lugar, o aquecimento global* – o mostro responsável directo pelas catástrofes naturais como furacões (género Katrina), El Niño (que alagou Moçambique há cinco anos) e o alastramento da seca em alguns países. O primeiro empata o crescimento económico e o segundo compromete a segurança das gerações futuras, ao mesmo tempo que agudiza, no presente, as desigualdades entre países ricos (poluentes) e pobres (vítimas da poluição).
Voltando às ilhas de Cabo-verde, uma análise atenta das suas condições naturais, nos conduz a um sentimento de revolta pelo desperdício do vento que sopra 24 horas por dia – em todas as montanhas e “cutelos” do arquipélago – e do sol que faz as suas aparições diárias e milimétricas (dia sim, dia sim). O astro rei tem servido, unicamente, de chamariz aos turistas que procuram zonas balneares com águas normas e cristalinas, enquanto que na mó de baixo se encontra a força incansável do vento: que só levanta as poeiras, para o mal dos nossos pecados. Apesar de ter registado nos anos 90, uma onda de electrificação rural e urbana, sem precedentes; volvidos uma década e meia, pouco podemos orgulhar da nossa capacidade de produção enérgica, sobretudo, na capital do país. Nesta, os apagões e os cortes sistemáticos de electricidade enfurecem os empresários, enraivecesse os consumidores domésticos e colocam a Electra (produtora e distribuidora de energia eléctrica) e o governo na corda bamba.
Relativamente ao aproveitamento dos recursos naturais como motor de desenvolvimento, pouco ou nada de relevante foi feito. Foi com surpresa que ontem li uma “notícia” sobre uma certa ERCV (Energias Renováveis de Cabo-verde), mas notei, pela reacção dos leitores, que ninguém a conhece ao certo. O jornal liberal, diz, por exemplo, que a mesma nasceu em Fevereiro de 2006, na sequência do Decreto-lei 54/99 – que liberaliza a produção da energia em Cabo-verde. A verdade é que esta empresa anda num diferendo (público) com a Electra (empresa do Estado). Segundo o dito jornal, a ERCV diz que a energia que produz custa 15 escudos por Kilowatt-hora e a produzida pela Electra fica a 24, na mesma unidade da moeda. Enfim, a empresa embrionária quer lutar por “um lugar ao sol”, a outra quer preservar o seu monopólio… a fazer fé no que diz a notícia.
Em jeito de finalização, auxiliado um pouco pelas palavras de Emanuel Kant, a iniciativa do governo cabo-verdiano (de isenção de impostos sobre ventoinhas e painéis solares) constitui “o despertar de um sono dogmático” de três décadas. Contudo, a questão da energia (eólicas e foto-voltaicas) é fundamental para o desenvolvimento sustentado de um país e, por essa razão, deve haver uma estratégia consertada para o seu aproveitamento. A este respeito devemos aprender com os Estados Unidos, Dinamarca, Brasil, Espanha, onde a aposta é forte. Importa frisar que uma das críticas comuns sobre a produção de energia limpa, sobretudo eólica, era o seu elevado preço, mas este tem caído acentuadamente nos últimos anos (cerca de um quinto de 1990 para 2005). O maior custo continua a ser a instalação, mas a manutençao é, praticamente, a custo zero, segundo dados da Wiképia.
Tomar essa decisão trinta anos após a independência revela alguma inteligência... assim se escreve, ainda que de forma lenta, os capítulos da história do milagre cabo-verdiano…
* Uma leitura aconselhável e pertinente sobre o aquecimento global (e formas de o inverter) é a revista TIME do dia 9 de de Abril de 2007.