quarta-feira, fevereiro 28, 2007

TACV: Voos Para Aflição

A semana passada foi frutífera em termos de notícia publicada (impressa e on-line) relativamente ao despedimento dos 150 trabalhadores dos Transportes Aéreos de Cabo-verde (TACV). Enquanto de um lado, a empresa apontava razões financeiras e erros do passado (provavelmente, na gestão dos recursos humanos) para explicar a sua incómoda decisão; do outro, os trabalhadores, a comunicação social e uma parte da sociedade explorava o drama do preço que uma centena e meia de pessoas teve que pagar para manter, temporariamente, a transportadora área nacional a voar com saúde. Sem a intenção de chover no molhado, procura-se fazer aqui uma leitura sobre o que pensa o cidadão cumum sobre a companhia em causa.
Assim, numa análise, ainda que ligeira, sobre a prática quotidiana dos TACV, fica a sensação de o mesmo presta um serviço público que não atinja e nem supere as expectativas mais modestas dos seus utentes. Neste aspecto, a lista de insatisfação é longa: os horários são desrespeitados; o conforto da viagem é diminuto; há desvio frequente e miraculoso das bagagens; os funcionários tratam os clientes com aspereza e cara de velório; e somando, ainda, o preço exorbitante e criminoso dos bilhetes de passagem praticado. Embora neste último aspecto haja uma percentagem significativa de viajantes que pague por ele o valor de táxi. O leitor, provavelmente, já se ouviu falar do Passageiro Free (livre): funcionários e respectivas famílias que, com o aval da administração da empresa, tratam o avião por tu. Num meio pequeno como Cabo-verde, há uma ilha em que, segundo as más-línguas, quase todos os seus habitantes têm, pelo menos, um familiar próximo nos TACV e companhia limitada e, portanto, têm motivos justificados para viajarem (sem rodeios) de “boleia”. Motivo este que causa inveja e sentimento de injustiça nos “crioulos” mais sensíveis. Afinal, quem não gosta(va) de ser free?
Pouco se sabe acerca do cargo ocupado e funções desempenhadas por estes trabalhadores que, há bem pouco tempo, julgavam-se sortudos por fazerem parte de uma empresa notória e fina. Contudo, conjectura-se que sejam, provavelmente, pessoas contratadas à pressa. Uma vez que não se enquadram no projecto estratégico da empresa, que, na altura da sua contratação era algo que nem se quer se discutia. Eram outros tempos…de vacas gordas.
Consequentemente, as organizações são aquilo que os seus colaboradores e gestores de topo pensam e fazem; por isso, gerir com inteligência os recursos humanos, implica a cultura de formação e reciclagem, baseadas na monitorização contínua do desempenho dos funcionários como garantia de qualidade e sucesso. Este assenta, claramente, na definição rigorosa e estratégica de uma missão que constitui uma referência diária para o desempenho da organização e razão para a sua aprendizagem permanente.
Por essa razão, a transportadora área cabo-verdiana, bendita TACV, tal como fez as grandes empresas do seu ramo, deve traçar um objectivo simples e humilde: garantir a satisfação dos seus clientes. Neste sentido, em terra e no ar deve ter funcionários à altura de garantir que quem escolhe viajar nos seus Boeing e ATR, tenha motivos acrescidos para voltar a fazê-lo, voluntariamente, o mais rápido possível. Neste sentido, o lema – “TACV: o Prazer de Viajar Bem”, parece gasto, oco e desajeitado em termos de estratégia de marketing. Sentimos orgulho em viajar à bordo dos TACV (sobretudo, na rota Portugal-Cabo-verde) porque somos cabo-verdianos; não porque sentimos confortáveis e conformados com a nossa sorte. Pagar tão caro, por uma viagem tão curta e aflita para a carteira.

Notas de rodapé.
O Edukamedia faz votos que os 150 trabalhar despedidos encontrem brevemente novas ocupações. Para os actuais trabalhores, JMN, o primeiro-ministro, disse, ontem, na Assembleia Nacional que a reestruturação dos TACV, ou melhor, o seu processo de saneamento financeiro não significa que tem que haver, necessariamente, novos despedimentos. Esperemos que assim seja.