sábado, janeiro 13, 2007

A Procura (Des)encantada da Educação: um olhar cruzado sobre o diploma e o (des) emprego (I)

"Será que vale a pena continuar a estudar, se há tanta gente formada no desemprego?!", pergunta um jovem, ao comentar a notícia avançada pela televisão sobre a vaga de licenciados que está a engrossar a lista, cada vez mais longa, dos sem emprego, nos Centros de Desemprego. Ninguém parece ficar indiferente a esta realidade social, que hoje pode afectar o vizinho do lado, amanhã o autor deste artigo e depois, o prezado leitor, etc. Nunca se sabe como alvorece o nosso empregador ou o nosso posto de trabalho. Contudo, uma análise mais fina do problema demonstra que a escassez de emprego (qualificado) constitui um sinal evidente de saturação e mudança no mercado de trabalho à escala global. Se não vejamos.
Até à Segunda Grande Guerra, ser formado (bacharel, licenciado, mestre e doutor) era uma possibilidade restrita a um círculo de pessoas e equivalia a mudanças do estatuto social, a uma vida estável, com casa, emprego estável, entre outras benesses que ser estudado proporcionava. Essa época foi tecnicamente designada pela sociologia da educação, de procura encantada da educação. No entanto, depois da Segunda Grande Guerra, sobretudo a partir dos anos 70 aos dias que correm, a entrada em massa das classes sociais que antes barravam-se à porta da escola e a consequente massificação do ensino, fez com que a posse de um diploma não correspondesse, necessariamente, a um emprego estável, à mobilidade social ascendente, ou seja, a progressão para a classe média ou alta. O mérito do indivíduo passou, assim, a ser mais valorizado, em desfavor do valor implícito do canudo. Esta época em que nós vivemos foi e é designada de período de procura desencantada da educação.
No entanto, a pergunta (retórica e indignada) feita pelo jovem no início deste texto, encontra-se respondida, parcialmente, pela fase da procura desencantada da educação, acima descrita. O diploma, por si só, não confere, automaticamente, um emprego: a saída da Universidade, faz-se, hoje, em muitos cursos, pela porta de entrada do centro de emprego. Mas, o jovem em causa deve saber que o sistema educativo criou um mecanismo de auto-regulação que faz com que, ainda hoje, as escolas (da primária à universitária) estejam apinhadas de alunos. Porque será? Quanto mais bem formado for um aluno, sobretudo ao nível do ensino superior, mais probabilidades acha que terá, em termos teóricos, de encontrar um bom emprego, num mercado concorrido, onde, apesar da desgraça das notícias, se procura nas qualificações um valor acrescentado.