sexta-feira, outubro 13, 2006

As (con) fusões de Bolonha

Menos disciplinas; cadeiras novas; horários confusos; canudos em três anos; licenciatura + mestrado, num bloco de, apenas, cinco anos; desrespeito pelo estatuto do trabalhador estudante; aumento das mensalidades, são, de momento, as preocupações apontadas ao jornal diário, o Metro, na edição de quarta-feira, 11 de Outubro, pelos estudantes lisboetas, acerca do inicio de mais um ano lectivo, com o processo de Bolonha à vista.
É certo que algumas críticas acima enumeradas, são de natureza organizativa e cuja solução está a ser equacionada pelas faculdades, outras, porventura, ultrapassam a própria competência das instituições universitárias.
Uma análise, ainda que ligeira, das inquietações legítimas dos estudantes mostra que a questão do emprego ficou de fora. Relativamente ao processo de Bolonha, desconhecem-se evidências empíricas que provem que constitui uma resposta benéfica aos problemas do ensino superior português ou seja, ao desfasamento entre a oferta e procura de cursos, a inserção dos diplomados no mercado de trabalho, ao grau de exigência dos cursos. A medida proposta enquadra-se, com justeza, numa política economicista de eficiência e de remassificação do ensino universitário, propondo, por isso, uma produção em série de diplomas. No contexto e conjuntura actual, marcado pelo desemprego de quadro diplomados, nomeadamente dos licenciados e, mais recentemente, dos doutores que há bem pouco tempo gozavam de condições contratuais invejáveis, a aplicação da medida em apreço, parece ser, neste aspecto, no mínimo, incompreensível.
Consequentemente, a diminuição dos anos de curso, em nome de uma maior flexibilidade; a existência do suplemento ao diploma; a mobilidade inter-universitária; e a aprendizagem centrada no aluno apresentadas como mais valias propostas por Bolonha, só fazem sentido caso as empresas e a função pública absorvam os antigos e os novos diplomados. Caso contrário, estar a fabricar cegamente diplomas em série, em nome de um Portugal distante da Europa avançada em percentagem da população diplomada, parece uma justificação emocionalmente compreensível e logicamente suspeita.

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