sexta-feira, outubro 13, 2006

Bolonha, três anos por um Canudo

O processo de uniformização dos cursos a nível europeu tem uma história curta e um presente conturbado. A ideia nasceu após vários encontros dos ministros europeus responsáveis pela pasta da educação. O momento alto das moratórias diplomáticas, aconteceu em Paris, em 1998, com a declaração de Sarbonne e em 1999, na Itália, na cidade de Bolonha, com a subscrição da declaração de Bolonha, que estabelece o ano de 2010 como meta para o arranque formal do espaço europeu do ensino superior. No entanto, foram registadas iniciativas mais recentes, como, por exemplo, em 2003, em Praga onde foi estabelecido o sistema de créditos e os três ciclos de estudos; em 2005, em Bergen, Alemanha, foi reafirmada a relação entre o espaço europeu de ensino superior e o da investigação. Todavia, a declaração de Bolonha parece ser o nome, simbólico, de baptismo desta política educativa europeia, embora tenha havido várias iniciativas em muitas outras cidades do velho continente.
Um pouco por toda a Europa, as instituições de ensino superior têm feito os demarches necessários no sentido de cumprirem o prazo de uniformização dos curricula do ensino superior. A institucionalização de três ciclos de estudos, sendo o primeiro, a licenciatura, de 3 anos, o segundo, o mestrado, de dois anos e o terceiro, doutoramento. Existem, algumas outras propostas como, por exemplo, a mobilidade geográfica, onde um aluno ao terminar um ciclo de estudos, numa determinada universidade, é aceite em qualquer outra universidade europeia para prosseguir os estudos. Apesar destas benesses, as críticas (construtivas e destrutivas), bem como as dúvidas sobre o processo de Bolonha tem chovido, um pouco por todo lado. Da gestão universitária, aos alunos, passando, obviamente, pela sociedade, o sentimento de incerteza é comum. Ainda assim, nenhuma instituição desistiu; pois temem perder o comboio para o futuro. No entanto, deixa-se aqui no Edukamedia, alguns desabafos.
Em Portugal, numa entrevista a um jornal estudantil, o reitor da Universidade Nova de Lisboa, Leopoldo Guimarães, rejubilou-se com o facto de a instituição que dirige estar numa posição dianteira em relação às outras universidade portuguesas, quanto aos cursos à Bolonha. "Quem lidera é quem está à frente", afirmou o catedrático. Por seu turmo, o reitor da Universidade de Coimbra, Seabra Santos, passado umas semanas, no mesmo jornal, levantou dúvidas legítimas sobre o processo de Bolonha, numa provável desculpa pelo atraso (pensado) da mais antiga academia portuguesa em aventurar num processo, um tanto ou quanto, incerto como Bolonha. Adiantou o magnífico reitor que não há nenhum estudo que prove que esta mudança [forçada] traz benefícios acrescidos aos alunos e às instituições universitárias.
Na mesma linha discursiva, a revista Pontos nos ii, trouxe, na semana transacta, mais lenha para a fogueira. Em entrevista exclusiva, a vice-reitora da Universidade Católica Portuguesa, Luísa Leal de Faria, assegurou, de forma peremptória, que as reformas do ensino superior têm pautado pela diminuição dos anos de curso e pelo consequente decréscimo do grau de exigência. Em relação a Bolonha, constatou que este chama de licenciatura, a um curso de 3 anos, conhecido, entre nós, como sendo Bacharelato. Mas, num tom mais expectante, a vice-reitora da Católica e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, reconhece que cabe ao mercado de trabalho dizer da sua justiça sobre o presente processo de reestruturação do ensino Superior público e privado.

Etiquetas: