domingo, fevereiro 18, 2007

"Juís é antis di keda"

"Cabo-verde longe de vista, perto de coração".

Todos os mortais, sem excepção já, algum dia na vida, se sentiram presos por um laço invisível que os envolveu o coração e a alma. Hoje relembro a laçada que outrora envolveu silenciosamente Mané Quim, personagem principal de Chuba Braba, romance de Manuel Lopes. Este enquanto o seu padrinho Joquinha, pressionava-o a ir para Manaus, Brasil (e fugir da seca), o seu amor pelas lavouras em ribenrãozinho e a carnuda Escolástica atormentavam-lhe a consciência de uma partida inesperada, triste e ingrata. "Ter que partir e ter que ficar"; "Ter que ficar e ter que partir", eis a questão
Está frase, embora de pequena dimensão, traduz o que se designa por "evasionismo criolo". Deixar a nossa terra seja por que motivo for, dói a alma, por mais nobres que sejam os motivos. Ainda assim, dizer adeus ou, simplesmente, um até breve é feito com sorriso do dever e lágrimas de saudade que diariamente hão de regar a distância que nos separa da terra natal. "Cabo-verde longe de vista e perto de coração", quem viveu ou passou por Lisboa e deambulou pelas agruras da emigração, certamente deu de caras com esta frase (emotiva) à porta de um bairro habitado maioritariamente por cabo-verdianos e mediatizado por motivos menos nobres. Apesar da desgraça que quotidianamente o bairro sofre pelo escrutínio atento e exigente da opinião pública, os seus habitante guardam religiosamente o seu amor à terra natal, embora uma percentagem significativa não o dignifique como devia.
A este propósito, aproveito o desabafo de uma cabo-verdiana que à trinta anos trocou a cidade da Praia por Lisboa e que presenciou a triste cena de um adolescente africano no gamanço (roubo) no metro de Lisboa. – "És ta pó alguém na vergonha"! Confesso que esta frase traduz um certo saudosismo, dado que em Cabo-verde, nos tempos idos, a conduta juvenil sempre se pautou pelos nobres costumes; hábito que tende, cada vez mais, a dissipar-se nas ilhas da emigração com a segunda e terceira geração. Todavia, as notícias que actualmente chegam dos dez grauzinhos de terra (CV) tendem a trair todos os que um dia, por variados motivos, lhes dissera até breve: - É sta punu na vergonha! Parece que já não somos um país de brandos costumes: também assaltamos pessoas; também há gamanço à luz do sol e crimes hediondos com facas, catanas, "maxim"… lembrando tristes acontecimentos, ainda comuns nas outras paragens africanas que outrora serviam para distanciar o "nós"; "deles".
A verdade é que esta mudança brusca e surpreendente parece ter sido originado por um duplo motivo. Primeiro, pelo desvio à norma de um número significativo de jovens e bodi bedjus nascidos e crescidos em Cabo-verde. Segundo pelo contributo notório de jovens de segunda e terceira geração de emigrantes nascidos e crescidos nos EUA que ao abrigo da lei de "Tolerância Zero" foram expulsos pelo seu curriculum criminal. Estes dois grupos procuram aterrorizar todos àqueles que apresentam bens materiais ou que supostamente têm obrigação de os possuir. Enquanto as autoridades e o exército estudam soluções nos quartéis e gabinetes, pode acontecer que de um dia para outro, a Revista Times e seus acólitos decidam colocar Cabo-verde na lista vermelha (red light) do turismo internacional. O primeiro passo e sinal já foi dado: a morte recente das italianas na ilha do sal foi, provavelmente, o mais mediatizado caso de assassinato ocorrido em Cabo-verde.
Queremos ser notícia pelas nossas praias de areia fina, infinita, e de água morna e cristalina; pela morabeza que nos caracteriza; pela inteligência com que diariamente tentamos vencer o deserto e criar o futuro; pelo orgulho que sentimos em dar vida ao criolo e mostrar a nossa identidade; pela bela literatura e pedregulho que temos e que fazem de nós um país de Pedra e de Poetas [e Músicos], segundo Jorge Barbosa. ENFIM, UM PARÁGRAFO DE MOTIVOS MAGNÍFICOS PELO QUAL DEVEMOS PROMOVER A MARCA CABO-VERDE ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS.