sexta-feira, março 23, 2007

Geração Rasca, Bué e Fixe:Juventude Rotulada (ii)

Ainda na sequência da pergunta anterior, importa referir que todas as gerações de jovens têm (ou tiveram), num momento ou outro do seu desenvolvimento, algo de “rasca”; “tipo”; “bué”, “iá” e de “fixe”, uma vez que crescer (sobretudo, na adolescência) implica mudanças e reestruturações. Contudo, a solução desta crise (efémera ou não) de nomes pomposos não se resume, simplesmente, à sua erradicação terminológica, mas sim da realidade que a fomenta e denuncia. Se não vejamos: a) os números confirmam que o insucesso e abandono escolar assumem valores preocupantes do básico ao universitário, passando, obrigatoriamente, pelo secundário, segundo o Ministério da Educação; b) os jovens tendem a ter, cada vez mais, uma perspectiva temporal de futuro bastante próxima do presente e, portanto, de materialismo puro; c) a incerteza em relação ao futuro é reinante, a vontade de a superar inexistente. Tudo isto, somado e multiplicado por uma mistura explosiva: uma percentagem significativa da sociedade, incluindo a juventude, quer “coisas tipo fixe”, provavelmente, aquelas que dão, por um lado, pouco ou nenhum trabalho e, por outro, garante prazer imediato. Por essa razão, perante a condenação dos eventuais culpados pela situação ora descrita, poucos cidadãos escapariam de visitá-los como testemunhas no tribunal da consciência e saírem dali com a ficha limpa: “sem que nada conste…”
Em casa, enquanto crianças, os jovens (rotulados) foram, provavelmente, vitimas da ausência de contacto pedagógico com os materiais escritos, da reduzida (ou nula) estimulação para a leitura na infância, do consumo e da centralidade excessiva da televisão como meio único de (in)formação. Estes factores, junto com outros, podem ter contribuído para que os modelos ou referências educativas dos jovens – de acordo com Bandura, psicólogo e teórico da educação – tenham emergido do seu meio cultural (pouco estimulante) ou então, de uma pobre programação televisiva – assente no entretenimento: novelas, filmes (violentos), futebol, etc. Caso esta análise esteja correcta, a continuidade do problema, só faz desabrochar novas gerações de rasca e desajeitados culturais, a julgar pela atenção, mal intencionada dos críticos. No entanto, uma postura pedagógica aconselha que se faça uma inversão de marcha, ou seja, a mudança das práticas de educação em casa e na escola. Devemos apostar seriamente na educação ao longo da vida (life long) na expectativa de que o tempo minore os erros do passado e ajude os jovens – que se sintam, actualmente, descriminados – a se comprometam avidamente com a sua auto-formação.
Para finalizar, gostaria de saber o que pensa o cidadão (e leitor) sobre o rumo a seguir por esta juventude (irreverente, mas para muitos irresponsável) numa sociedade que a observa do alto do pedestal com problemas de consciência. Já que está na arena, encare o problema de frente e compartilhe com o Edukamedia, o que poderá ser, para si, a pista para uma solução (do presente a pensar no futuro): simples, criativa e, porque não, fixe!