quarta-feira, abril 04, 2007

Uganda da Nossa Consciência

Edukamedia foi à sala de cinema ver O Último Rei da Escócia – uma viagem de 121 minutos ao Uganda dos anos 70, época em que um militar carismático e populista, Idi Amim Dada (Forest Whitaker) chega ao poder, prometendo criar mais escolas, hospitais e um grande país – ancorado na paz, na liberdade e no poder negro. Nessa mesma altura, por coincidência, chega ao interior deste país africano, à procura de aventura, um jovem médico escocês, Nicolas Garrigam (James Mc Avoy), acabado de sair da faculdade, que torna médico e conselheiro chegado do recém presidente (enroupado de militar). Apesar dos (bons) conselhos, Amim Dada demonstra a imagem de um hipócrita, déspota, sanguinário e psicopata que responde, de forma musculada, a qualquer indício de violência, traição e oposição ao seu regime.
Cerca de 300 mil almas não aguentaram à dureza dos nove trágicos anos em que o homem que fora criado pelos militares britânicos traiu a esperança do seu povo, enquanto a história, nomeadamente, as Nações Unidas, assistia a tudo, impávida e serena.
Pela sequência dos acontecimentos (publicações, cada vez mais, demolidoras sobre a figura do presidente Ugandês, na imprensa estrangeira e a consequente fuga do Dr. Nicolas Garrigam), o telespectador conjectura o fim da ditadura, algo que é anunciado, sem imagem, no final do filme: Amim Dada foi deposto em 1979 e morreu, em 2003, na Arábia Saudita.
O filme comove o telespectador, pela clivagem existente entre o interior (de Uganda), pobre e a cidade, imponente; pela frieza e brutalidade como um africano põe o fim à vida de um irmão; pela simplicidade e alegria estampada nos rostos negros de homens e mulheres que se emocionam só de ouvir falar em escolas, hospitais e na história de África, ou seja, numa utopia possivel.
O Último Rei da Escócia nos leva a mão à cabeça, não só pela sequência brutal das imagens de carnificina numa África dos anos 70, mas também, pela consciência de que esse passado é, ainda, infelizmente, presente em muitas paragens do mesmo continente. Darfur, no Sudão, constitui, apenas, um dos inúmeros exemplos. Por isso, o telespectador, principalmente, africano ou “cidadão do mundo”, deixa a sala de cinema silencioso e mais pesado, consciente de que é preciso fazer algo, arregaçar as mangas, uma vez que o caminho a percorrer é longo… espinhoso, mas necessário.
Ajudar a construir escolas, hospitais, postos de trabalho, em África; incentivar as crianças a ler e a contar histórias do Egipto, Shongai, Monomotapa, Nbanza Congo, enquanto aprendem matemática, física, química, biologia, far-nos-à sentir mais leves – a corrigir o passado,com os olhos postos no futuro.
Nota: Forest Whitaker, um afro-americano do Texas foi distinguido com a estatueta de melhor actor pela academia de Hollywood, devido à sua interpretação brilhante e assustadora. O Edukamedia aconselha, também, uma espreitadela aos Dreamgirls, onde Jennifer Hudson numa exibição de luxo foi premiada com um oscar de melhor actriz secundária.

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