sexta-feira, outubro 26, 2007

Sonho Com a Saudade

Enquanto que uns repousam no aconchego das camas ortopédicas depois de um dia cansativo eis que levanto da minha e prostro diante do computador para estar mais perto de ti… Se tivesse internet podia pensar em namoros, beijos, fantasias ou quiçá em orgasmos virtuais – se é que já inventaram esta fraseologia!? (risos). Estou no portátil a procurar as letras que juntas falam da saudade, dos nossos passeios à beira-rio, das conversas perante duas chávenas de cafés, dos beijos que ainda soam nesta madrugada solitária como a bravura das memórias de quem vai à fonte procurar inspiração para acalentar a ternura dos dias que mesmo ao nascer trazem a chama de um merecido reencontro: num amanhã que fica sempre adiada.
Hoje sinto que uma parte de mim dorme algures num pedaço do mundo que os geógrafos alcunham de falésia. Levantei da cama, acendi a luz, procurei algo que me fizesse rir, sorrir e rapidamente voltar a dormir. Procurei fotografias, postais, cartas… sem resultado. Continuei casmurro. Foi então que decidi pegar nas lembranças boas que repousavam na candura dos cântaros que outrora, vezes sem conta, foram ao deserto procurar água nas superfícies profundas, no declive suave do rochedo envolto na geometria euclidiana do teu corpo. Por instante fiquei saciado e recordei a areia fina das praias que descalços percorremos à procura de um motivo para selar um dia passado à frente do atlântico. Os inúmeros barcos que víamos partir para mundos distantes, cheios de turistas fomentos em pisar outras terras, beber outras águas e cheirar outras culturas que agora me faz sentir que, também, quero partir. Não quero ficar preso a um sorriso que, por mais encantador que seja, me tortura; que me faz sofrer em nome de um amanhã que nunca chega, de um amanhã que é, simplesmente futuro enlaçado em sonhos…
Sinto-me feliz por cada sorriso que recebo, por cada gesto de carinho que demonstro, mas reconheço que a tua partida fez com que os dias ficassem mais longos, as horas mais torturantes, a minha cama maior… Sinto, também, que gozo uma estranha forma de liberdade. Uma liberdade que me leva a apreciar a beleza sublime da luz, as alegrias que acompanham o viajante num carro a baixa velocidade com vidros simi-fechados na estrada da marginal à procura dos sonhos perdidos no calor da noite, no cheiro amaresiado das praias desertas, no sabor dos versos atirados aos rio e no escutar do lado B enquanto o A toca as mágoas, as tristezas, as ondas cansadas que deixaram de quebrar na praia.
Estou a começar a baralhar as letras, a despoetizar em vez de pensar no amanhã que acabou de dar o seu primeiro grito da aurora esperança. Estou a digitar o pretérito escavando as recordações para afugentar as ondas negativas que, de quando em vez, invadem o prédio, o quarto, a cama e o ser que, calmamente, nela repousa depois de uma jornada laboriosa para poder acordar no dia seguinte pensando no amanhã. Hoje pedi o sono. Amanhã beberei cada letra que hoje escrevi para poder dormir embriagado com a mal-aventurada “saudade” – uma doença fatal que ataca o coração e a alma; que coroe e deixa malezas. Uma patologia perigosa que requer cuidados reservados e vigilância apertada dos seus efeitos… Foi descoberta por familiares de viajantes portucalenses que a tornaram numa marca registada no universo das línguas, da amizade e das mentes que “sofrem de um não sei quê” provocado pela distância…os povos não (lusófonos) dão voltas e voltas para a explicarem ao médico os sintomas e nós, calmamente, dizemos apenas: - Sr. doutor a minha doença é a saudade, passamos à terapia…

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sexta-feira, outubro 12, 2007

Al Gore Vence o Nobel da Paz

O vencedor do prémio Nobel da Paz é o norte-americano Al Gore - o ex-Vice-Presidente dos Estados Unidos e activista ambiental a mais de vinte anos. Al Gore é autor de Uma Verdade Inconveniente. Um livro com adaptação cinematográfica que lhe valeu duas estatuetas da academia de Hollywood. Enquanto escrevo estas linhas estou a folhar um jornal diário que traz uma noticia curiosa: um juiz britânico, Justice Burton concluiu (na sequência da reclamação de um professor que pretende banir o filme das escolas secundárias) que o filme de Al gore contém erros científicos (um total de nove) e que o mesmo pode continuar a ser exibido nas escola mas com informação adicional que transmita a versão "do outro lado da história"...
O prémio agora conquistado parece, quanto a mim, justo. O homem trabalhou para esse fim e conseguiu.

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sexta-feira, outubro 05, 2007

professores Com P

Este texto começa mal, mas com boas intenções. A descriminação no título prenuncia a certeza de homenagem aos professores com p maiúscula – esforçados, carinhosos, justos, que cuidaram com a vigilância apertada a nossa aprendizagem nos bancos e carteiras da escola – e que deles hoje lembramos com saudade. No presente dia, comemora-se o dia internacional do professor e é justo recordar que parte do que hoje somos (pela positiva e pela negativa) devemo-lo aos nossos mestres!
A Maria João queixa-se dos cuidados excessivos do professor que a deixou divorciada da escola na primeira semana de aulas. “Eram outros tempos…” – refere a octogenária. A dona Cândida recorda, por sua vez, de como dominava o nome dos rios, montes, serras, linhas ferroviárias de Portugal e das “áfricas”. “A escola era a do meu tempo onde os professores ensinavam e os alunos tinham que aprender” – profere com saudosismo a utente de um lar de idosos que falava enquanto comia a sua sopa. O sr Francisco lembra (com amargura) os caminhos calcorreados a para chegar à escola e (com satisfação) os momentos que passava debaixo do sobreiro numa turma apinhada de gente faminta em saber escrever e a ler o destino. “Lembro com saudade os tempos da escola” – recorda o antigo trabalhador da Cooperativa de União Fabril (CUF) que o edukamedia encontrou a jogar cartas com os amigos na avenida do Bocage, no Barreiro.
Os professores são eternos como os nossos pais: culpabilizamo-los muitas vezes, injustamente, pelos fracassos e pouco elogios reclamam dos nossos sucessos. Ultrapassei grande parte dos meus professores (da primária e dos primeiros anos da secundária) em graus académicos, mas, ainda assim, não esqueço que foram eles que me ensinaram as primeiras letras; que estão na base dos meus risos eufórico quando na segunda classe dizia aos meus colegas que já sabia ler os livros do primeiro ano do ciclo preparatório; com eles aprendi capítulos de história, conheci os nomes das terras e dos povos, bem como os teoremas e os axiomas que me alumiaram a minha razão; enfim, fizeram de mim um alfabetizado.
Neste dia internacional dedicado aos professores a ocasião exige, por um lado, festas, comemorações e distinções (sempre merecidas) e, por outro, reflexão uma vez que o acto de ensinar é, cada vez mais, complexo e desmotivante em certos contextos e em certos países. A desmotivação dos alunos dentro da sala de aula, o despovoamento das regiões, os ataques da sociedade à escola e a desmotivação crescente da classe docente obriga-nos (incluindo prezado leitor) a uma reflexão profunda sobre o “ser professor” e sobre o papel da escola num mundo com milhões de analfabetos, nos países com altos níveis de ileteracia e nas sociedades com uma percentagem significativa de professores desempregados ou em risco de perder o emprego.
Alguns teóricos (como, por exemplo, Ivan Ilich) preconizaram o fim da "escola", mas a escola como instituição, quanto a mim, será eterna. Contudo, aposto em upgrades das suas competências e responsabilidades sem, no entanto, deixar de reforçar as condições aos (bons) professores para fazerem o que mais gostam (ou que acabaram por gostar) – ensinar. Basta falar com uma criança ou adolescente para se perceber que, tirando a obrigação de assistir as aulas, a escola é o lugar mais “fantástico” do mundo. Isto obriga-nos a uma reflexão desapaixonada sobre as salas de aulas e acerca dos professores e “cétores” que nelas ganham a vida.

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