sexta-feira, outubro 05, 2007

professores Com P

Este texto começa mal, mas com boas intenções. A descriminação no título prenuncia a certeza de homenagem aos professores com p maiúscula – esforçados, carinhosos, justos, que cuidaram com a vigilância apertada a nossa aprendizagem nos bancos e carteiras da escola – e que deles hoje lembramos com saudade. No presente dia, comemora-se o dia internacional do professor e é justo recordar que parte do que hoje somos (pela positiva e pela negativa) devemo-lo aos nossos mestres!
A Maria João queixa-se dos cuidados excessivos do professor que a deixou divorciada da escola na primeira semana de aulas. “Eram outros tempos…” – refere a octogenária. A dona Cândida recorda, por sua vez, de como dominava o nome dos rios, montes, serras, linhas ferroviárias de Portugal e das “áfricas”. “A escola era a do meu tempo onde os professores ensinavam e os alunos tinham que aprender” – profere com saudosismo a utente de um lar de idosos que falava enquanto comia a sua sopa. O sr Francisco lembra (com amargura) os caminhos calcorreados a para chegar à escola e (com satisfação) os momentos que passava debaixo do sobreiro numa turma apinhada de gente faminta em saber escrever e a ler o destino. “Lembro com saudade os tempos da escola” – recorda o antigo trabalhador da Cooperativa de União Fabril (CUF) que o edukamedia encontrou a jogar cartas com os amigos na avenida do Bocage, no Barreiro.
Os professores são eternos como os nossos pais: culpabilizamo-los muitas vezes, injustamente, pelos fracassos e pouco elogios reclamam dos nossos sucessos. Ultrapassei grande parte dos meus professores (da primária e dos primeiros anos da secundária) em graus académicos, mas, ainda assim, não esqueço que foram eles que me ensinaram as primeiras letras; que estão na base dos meus risos eufórico quando na segunda classe dizia aos meus colegas que já sabia ler os livros do primeiro ano do ciclo preparatório; com eles aprendi capítulos de história, conheci os nomes das terras e dos povos, bem como os teoremas e os axiomas que me alumiaram a minha razão; enfim, fizeram de mim um alfabetizado.
Neste dia internacional dedicado aos professores a ocasião exige, por um lado, festas, comemorações e distinções (sempre merecidas) e, por outro, reflexão uma vez que o acto de ensinar é, cada vez mais, complexo e desmotivante em certos contextos e em certos países. A desmotivação dos alunos dentro da sala de aula, o despovoamento das regiões, os ataques da sociedade à escola e a desmotivação crescente da classe docente obriga-nos (incluindo prezado leitor) a uma reflexão profunda sobre o “ser professor” e sobre o papel da escola num mundo com milhões de analfabetos, nos países com altos níveis de ileteracia e nas sociedades com uma percentagem significativa de professores desempregados ou em risco de perder o emprego.
Alguns teóricos (como, por exemplo, Ivan Ilich) preconizaram o fim da "escola", mas a escola como instituição, quanto a mim, será eterna. Contudo, aposto em upgrades das suas competências e responsabilidades sem, no entanto, deixar de reforçar as condições aos (bons) professores para fazerem o que mais gostam (ou que acabaram por gostar) – ensinar. Basta falar com uma criança ou adolescente para se perceber que, tirando a obrigação de assistir as aulas, a escola é o lugar mais “fantástico” do mundo. Isto obriga-nos a uma reflexão desapaixonada sobre as salas de aulas e acerca dos professores e “cétores” que nelas ganham a vida.

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