quarta-feira, julho 25, 2007

As 7 Maravilhas do Meu Mundo

Acordei hoje a pensar nas 7 novas maravilhas do mundo que foram apresentadas, recentemente, em Lisboa pela Sevem Wonder Foundation – propriedade do realizador suíço Bernard Weber. Depois de alguma hesitação em compreender o porquê de estar a pensar no tema pouco interessante ao alvorecer, constatei que, afinal, enquanto dormia o meu inconsciente esteve a editar as imagens passadas na televisão na noite do dia sete de Julho. Pois, ao ruminar as maravilhas eleitas vieram-me à memória a terra onde nasci, os locais que visitei, os monumentos que senti o cheiro da sua preciosidade pelos livros, as criaturas bravas que comigo deambulam quotidianamente à procura de pão honesto para o sustento da família e reforço da lisura dos seus sonhos.
Feitas as considerações iniciais vamos, caro leitor, ao conteúdo dos sonhos, ou seja, à lista das mais prestigiadas maravilhas do meu mundo. Vou apresentá-las sem pôr ou tirar uma única vírgula ao inconsciente. Assim temos: o meu avô Pedro Ramos Jorge; os meus pais, Juliana e Eugénio; o meu professor primário, Félix Correia; o Penedão existente na casa da minha avó materna; a dona dos lábios do meu “primeiro beijo”; o primeiro e único brinquedo industrial (um camião dos bombeiros) que fora oferecido por um tio; o primeiro jeans que usei. Contudo, o leitor deve ter notado que esta lista é diametralmente aposta a dos gregos (filósofos) e tão pouco parecida com a de Bernard Webber (milionário e, quanto a mim, promotor turístico).
A apresentação das 7 novas maravilhas (confiada às estrelas Hilary Swank, Bipacha Basu e Bem Kinglsey) foi um mega evento mediático e digno de aplauso pela sua capacidade de mobilização. Contudo, a UNESCO recusou embalar na onda premeditada do espectáculo. O não alargamento da votação àqueles quem não têm voz (telefone e internet) e a ausência de contribuição financeira para a preservação dos monumentos eleitos justificam o não envolvimento do organismo das Nações Unidas.
As sete maravilhas da minha infância foram eleitas discretamente, sem espectáculo e sem votantes. Contudo ilustram a passagem inicial do Fio da Navalha, de William Somerset Maugham. “O homem não é só ele mesmo”…mas também a ferramenta que o ajuda ou dificulta a escrever a sua história.
Assim – o avô (paterno) enérgico e de trato fino que me acompanhou de perto nos primeiros anos; os pais irrepreensíveis que me garantiram protecção, segurança e algumas palmadas; o brinquedo (raro) que fez sentir o menino da bola entre os meus conterrâneos; a imagem tenra que guardo de um pequeno gesto (parecido com o de Bentinho e Capitu, in Dom Casmurro de Machado de Assis); a alegria de ter uma peça de roupa que pouquíssimas crianças tinha o privilégio de usar nos dias solenes; e, finalmente, a pedra volumosa e quadrada que nele sentado ou de cócoras ouvi estórias engraçadas, ri e cantei as alegrias que me vinham na alma – se explica a forma magnânima como olho para o mundo que me envolve e para cada uma das maravilhas que dormem na alma dos meus sonhos (caso contrário seria motivo suficiente para procurar um psicanalista. Risos).