domingo, março 30, 2008

“Príncipes Estragados”: o modelo em educação

O Modelo como mecanismo de suporte à aprendizagem foi introduzido no vocabulário pedagógico por Bandura, psicólogo americano. Segundo este académico, o Modelo se resume aos comportamentos que a criança apreende na interacção com o seu meio envolvente e que sustenta a forma como age e percepciona o mundo. Ou seja, o “modelo mental” ou a cartografia que possuímos do mundo que nos rodeia influencia o modo como pensamos e agimos (Senge, 2005). A teoria de Bandura é utilizada e maltratada quotidianamente por educadores, sobretudo, pais e professores. Neste ponto, a discussão é bastante interessante. Se não vejamos: a escola face aos problemas de comportamento quer sejam eles de indisciplina, violência ou até mesmo da irreverência culpabiliza os pais por não terem sido bons modelos para os filhos, e os pais, por sua vez, questionam a ausência de autoridade dos professores e o papel secular da escola. Enfim, não há culpados, mas o problema existe.
Com efeito, a guerra entre a escola e a família assume contornos graves nomeadamente quando ocorre o chamado “Go-Between”: a criança é utilizada como correio da insatisfação de pais e professores (e vice-versa). A gravidade da situação reside no facto de, segundo Marchal Mcluan, o meio é, também, a mensagem. Assim, a criança constitui um alvo “obrigado” a fazer coligações ou alianças (sem proveito).
Este tema da modelação do comportamento apresenta uma centralidade acrescida. Nunca é demais a sua abordagem e, muito menos, a abertura aos contributos seja de onde vierem. A justificar esta orientação, este texto dá conhecer alguns exemplos que marcaram a agenda da semana.
Na conferência anual da União Nacional dos Professores (ingleses) realizada na cidade de Manchester a questão dos alunos com comportamentos pouco assertivos (ou desordeiros) na sala de aula voltou a ser tema de discussão. Para os professores a causa do problema reside nas famílias que não souberam educar convenientemente os seus filhos e educandos. A presidente da União dos Professores em declaração ao diário metro, edição de 25.03.08 (disponível em www.metro.com.uk) advertiu que os pais estão a falhar na educação dos filhos, criando príncipes e princesas estragado/as. Pois, estão a chegar às escolas, por um lado, crianças pouco propensas ao esforço necessário à aprendizagem e ao trabalho fatigante que muitas vezes caracteriza a sala de aula e, por outro, apresentam quadros comportamentais que envergonham as “crianças que estão a gatinhar”, salienta Amanda Haehner.
Face aos comportamentos pouco correctos para com os árbitros protagonizados pelo jogador do Chelsea e da selecção inglesa, Asheley Coly e por Mascherano, atleta do Liverpool – que, à primeira vista, pouco trazem de novo dado a frequência da sua ocorrência no futebol – um jogador veio pedir respeito aos colegas. David James, guarda-redes de Portmouth e da selecção inglesa argumentou o seu pedido baseado na questão dos Modelos de aprendizagem: os jogadores, sobretudo, os profissionais que aparecem na televisão influenciam a formação da personalidade de crianças e jovens um pouco por todo o mundo. Um assunto demasiado sério que, na sua opinião, tem sido encarado de forma pouco séria. Pois, os jogadores também são pais. Todavia, nem tudo o que fazem dentro e fora do campo devia ser considerado certo pelas pessoas, rematou o jogador, mas, desta vez, com preocupação pedagógica.
Deslocando o foco da discussão para o interior das escolas dado que, segundo a PIDE, “tudo está ligado”, importa retomar a questão da bola de pingue-pongue entre a escola e a família do ponto de vista da Administração e da Organização Escolar. A existência de alunos com problemas graves de comportamento – o que na gíria se designa de “alunos difíceis” levanta problemas sociais preocupantes. A sua expulsão das escolas cria um ciclo perigoso. “Livrar-se de um aluno obriga que outra escola o receba, baseado no seguinte princípio: sai um entra outro”. Quem o afirma é Alan Steer, director da escola secundária Seven Kings, em Ilford, Londres. Com efeito, aconselha as escolas, sobretudo as públicas e religiosas, a serem mais empenhadas e participativas no tratamento adequado do fenómeno da violência escolar. Neste sentido, propôs publicar um “livro branco” para ajudar a melhorar a abordagem aos alunos ditos “difíceis”.
Concluindo, num artigo recente (escrito de forma brejeira, mais pedagógica) o penalista cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, aponta uma série de comportamentos ofensivos à moralidade pública protagonizados por um número significativo de indivíduos que deixa antever a ausência de códigos de etiqueta no seu processo de educação ou de socialização primária. O importante a reter neste tema dos Modelos de aprendizagem, do meu ponto de vista, é a consciencialização de que, por vezes, somos mais determinantes do que realmente pensamos na estruturação da personalidade das pessoas que directa ou indirectamente connosco convivem. Esta verdade traduz-se, em igual proporção, numa maior responsabilização individual e colectiva dos nossos actos. Bons ou maus modelos? A escolha depende do tipo país que queremos para os nossos filhos. O que pensa o leitor?
Luciano Tavares Silva

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