terça-feira, dezembro 29, 2009

O Poder (mágico) do Modelo na Educação


in Jornal Asemana, 27.11.09, p.26
Os progressos obtidos por meio do ensino são lentos; já os obtidos por meio de exemplos são mais imediatos e eficazes.
Séneca


Todos admiramos alguém que gostaríamos de seguir ou mesmo de imitar, mas as consequências desta escolha acertada ou errada extravasam os indivíduos, impondo à sociedade o dever de pagar as suas facturas dado que os bons ou maus modelos contribuem para a formação da riqueza e da pobreza das nações.

A educação, mais concretamente a aprendizagem dos valores, acontece em qualquer lugar, em qualquer época e em qualquer hora. Tal como o ser humano, a aprendizagem é, também, intemporal, eterna.

Porém, o problema reside sempre no tipo de modelo ou referencial pretendido quanto mais não fosse por que a educação é a chave para a transformação social e espera-se que ela seja sempre benéfica para o bem comum. Derivado desta intenção legítima, achamos importante promover a presente reflexão sobre o poder mágico dos modelos, discutindo as consequências da (in)acção para a vida de cada um de nós, em particular, a par das que, de uma forma ou de outra, afectam o país inteiro.

O modelo é algo que influencia a forma como olhamos e interagimos com o mundo que nos envolve, ou seja, determina o modo como predispusemos a pensar e a agir numa dada altura da vida. Assim sendo, raros são os homens que não se deixaram guiar por um determinado modelo. O conceito em apreço foi introduzido por Albert Bandura, psicólogo e educador canadiano, no vocabulário educacional, definindo-se, hoje, como uma das teorias charneiras no campo das teorias de aprendizagem.

A discussão dos modelos afigura-se importante em Cabo Verde como em qualquer parte da aldeia global, uma vez que o florescimento dos meios de comunicação de massa aumentou, significativamente, o número de pessoas que, a cada dia, interagem connosco, deixando, ainda que inconscientemente, alguma marca na nossa vida.

Porém, mesmo fora do mundo televisivo e da Internet, recebemos, quotidianamente, diversos tipos de influências, cuja aceitação ou repulsa ilustram o nosso grau de maturação ética e intelectual. Consequentemente, as crianças e os adolescentes, por estarem em fase de estruturação da personalidade e da definição da identidade, são os mais propensos a identificarem modelos reais e/ou imaginários capazes de darem asas aos seus “sonhos” e de colorirem as suas fantasias.

Na sociedade em que vivemos, o problema da modelação comportamental deve ocupar uma centralidade acrescida como forma de remediar a situação social actual que requer uma vigilância cuidada e um tratamento proporcional. A justificar esta orientação, o novo pastor da Igreja Católica em Cabo Verde, em entrevista ao Programa 1º Plano, da TCV, reiterou que a família cabo-verdiana encontra-se doente.

Uma análise, ainda que ligeira dessa confissão, acusa um diagnóstico preocupante. Se não, vejamos: regista-se um crescimento exponencial de famílias monoparentais, ou seja, de famílias geridas apenas por um dos progenitores, pai ou mãe, quase sempre; o aumento cada vez mais preocupante de avós que cuidam dos netos como se fossem filhos, devido à ausência física e, na maior parte das vezes, financeira dos progenitores; a situação dos filhos que dormem na expectativa de saberem se o pai vai dormir em casa; o aumento do número de crianças que crescem em lares onde nem o pai nem a mãe praticam algum tipo de culto religioso; o incremento do número de crianças que são educadas sem nenhuma formação espiritual/religiosa; a existência de um número significativo de famílias que valorizam a riqueza sem esforço em detrimento do trabalho árduo e honesto, sem esquecer aqueles que, de forma clara ou encoberta, se refugiam no consumo e/ou no negócio de produtos ilícitos, entre outros males.

As situações ora referidas funcionam como combustão, sobretudo, na educação das crianças e adolescentes. Sem a pretensão de sermos deterministas e acharmos que a gravidade dos factos gera forçosamente consequências ainda mais gravosas, apostamos simplesmente no possibilismo dado que a capacidade de resiliência de certos indivíduos nos alivie um pouco. Segundo o frisado conceito, o filho de um alcoólatra – apesar da pressão familiar - nem sempre é um potencial alcoólatra, pois ele pode dar a volta por cima, tendo, por exemplo, como modelo alguém que não use ou abuse do álcool.

Por outras palavras, é certo que numa família desestruturada nem todos os seus rebentos são forçosamente desestruturados, mas perder ainda que fosse um único elemento é, para nós, como se fosse perda total. Daí nasceu a causa da nossa preocupação para que ninguém se perca. Assim, como pais, tios, irmãos, vizinhos, padrinhos, madrinhas e amigos chegados sempre podemos, através da Pedagogia do Exemplo, influenciar positivamente quem convive connosco, pois é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança, diz um sábio provérbio africano.

Parece-nos, por isso, evidente que as abordagens parcelares, ainda que bem-intencionadas para combater os modelos negativos ou as influências nefastas na família, em particular, e na sociedade, em geral, tendem a pecar pela solidão. O desejável seria a criação de um pacto de regime, o que nem sempre possível. Vejamos um exemplo: a escola, face aos comportamentos disruptivos dos alunos seja de indisciplina, violência ou até mesmo da irreverência, culpabiliza os pais por não terem dado “boa educação” aos filhos ou, então, por não terem sido bons modelos para eles; os pais, por seu turno, questionam o papel dos professores, achando que deviam fazer o que não foi feito em casa, isto é, reparar os erros causados. Concluindo, as partes, ao não se acertarem, cada um estará a cavar, sem saber, a sua própria sepultura e lavando, depois, as mãos como fizera Pilatos.

Todavia, os erros nem sempre são reparados e, por consequência, certas decisões tomadas pela escola (nomeadamente a expulsão dos alunos) cria um ciclo vicioso quando se reconhece que faltam estruturas sociais de apoio capazes de oferecerem uma segunda oportunidade a quem foi expulso e/ou abandonou, ainda por opção, a escola. Aqui, segundo o pacto acima frisado, faria todo o sentido manter o aluno na escola em vez de o culpabilizar por não ter norte quando qualquer ponto da bússola o serviria como sinal de (des)orientação.

Na verdade, o seu desnorte pode estar associado à ausência de modelos acertados e/ou à presença de modelos nefastos no meio onde vive, a par de uma perspectiva temporal de futuro muito curta, segundo o professor Joseph Nuttin, da Universidade de Lovain (Bélgica).

O importante a reter quando se disseca a temática dos modelos na educação é a consciencialização de que, por vezes, somos mais determinantes do que realmente pensamos na estruturação da personalidade das pessoas que interagem connosco. Esta verdade traduz-se, em igual proporção, numa maior responsabilização individual e colectiva dos nossos actos e, consequentemente, a escolha entre ser um bom ou um mau modelo pré-anuncia o futuro do nosso bairro, da nossa cidade ou do nosso país e, sobretudo, do pilar de qualquer sociedade: a família. Enfim, dos bons ou mais modelos por cá existentes se constrói a riqueza e/ou a pobreza (material e moral) da nossa nação.

Albino Luciano Silva

Mestre em Educação (esp. Administração e Organização Escolar) e Pós-graduado em Gestão e Avaliação da Formação.
E-mail: s_albino21@hotmail.com; Blog: edukamedia, disponível em www.edukamedia.blogspot.com

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quinta-feira, dezembro 24, 2009

Boas Festas

A ti caro leitor ou visitante deste espaço, não queria fechar o computador e dar por findo o dia de trabalho sem antes desejar, de forma profunda, os meus votos de boas festas. Enalteço que natal é um momento de partilha e, por isso, as pequenas insignificâncias de que falam os poetas têm agora muito sentido. os presentes ainda que pequenos valem ouro, diamante quando na sua base está a amizade sincera e o espírito de partilha.

Boa consoada a todos.

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