quinta-feira, abril 24, 2008

Liberdade "Vinte e Zinco"

Apagar as Velas no Dia da Liberdade
25 de Abril

A vida é um altar da liberdade;
um palco de expressão condicionada;
uma via para a prometida felicidade;
uma canção de Abril denunciada.

A revolução tornou-se evolução;
o Abril das promessas em desgraça se tornou;
em cada arma houve, de facto, um acontecimento;
por detrás de cada cravo uma esperança ferida.

Amar Abril é Amar a Liberdade;
é poder respirar sem olhar para o lado;
é sentir a mudança na curvatura do tempo e dos dias;
é continuar a luta contra " vinte e zinco" de Mia Couto

Luciano Tavares Silva

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segunda-feira, abril 21, 2008

Vanity Fair Lesson: uma estranha forma de amar

Entrei no Hyde Park Corner, em Londres, seguindo as atracções turísticas da cidade e encontrei um lago artificial habitado por aves, cercado de relvas e coberto pelo céu cujo azul o torna extraordinário e o cinzento romântico! Enfim, uma obra bem desenhada pela arquitectura paisagista, regada com cuidado pela jardinagem e apreciada com entusiasmo pelos visitantes. Era ao entardecer e o ambiente estava convidativo e, por essa razão, quis eternizar o momento com uma fotografia. Pois, queria ganhar tempo antes do sol se pôr no horizonte. Quem admira as maravilhas da natureza sabe com que ingredientes estava eu a cozer… Ao explorar as atracções do park e depois de algum cansaço escolhi um banco para repousar e terminar a leitura inquietante de Vanity Fair, de Willian Thackery. Com alguma dificuldade – é certo – acabei de o ler, na medida em que acudiram à memória reminiscência de um passado não muito distante, ressuscitando uma personagem parecida com a Amélia do dito romance: jovem, meiga, doce coração, sofredora calada das incertezas do tempo e do amor.
O nosso primeiro encontro foi nas margens de um rio. O dia estava solarengo e ela usava óculos escuros para se proteger do sol e para me poder apreciar disfarçadamente, confessou-me mais tarde. A nossa conversa percorreu África, América, Europa, Coimbra, Ambições, Fantasias e Nós. Entretanto, barcos a vela desfilavam nas águas azuladas onde um dia um homem de ar cansado retorquiu os seus conterrâneos sobre a vã cobiça, a fome de mandar e a sede em dominar os outros. Contudo, no pensamento da jovem não havia nada de bélico e de imperial, simplesmente as subtilezas de uma rainha sem coroa. Devido a brisa fresca e do entardecer deixamos o rio, mas levamos o significado de um pôr-do-sol partilhado intimamente e que selou as palavras ora tocadas, eternizando-as. Sentados num banco do jardim a atirar opiniões ao vento como quem quer não quer a coisa deu-me uma vontade inusitada de segurar o seu queixo e, de forma lenta, mas compassada, acariciar os seus lábios. Estes eram exemplares raros, invulgares e exóticos – pensei com os adjectivos que faziam fervilhar o meu sangue e a ansiedade de provar o sabor decerto doce. Imaginava eu convicto…
Diz Camões que do bem, fica a saudade; do mal, a mágoa, mas, neste houve uma mistura e a sensação de tê-la ferido, atribuindo unicamente ao tempo a responsabilidade da cicatrização. Prometemos ir às ilhas desertas, ver juntos o nascer do sol, mas ficamos pela mensagem romântica, cinema, restaurante e shopping. Porém, o palpitar dos seus lábios, o respirar cansado dos beijos, o desenho da vida a dois esmagam a consciência de não ter, sequer, tentado acreditar que o sim é possível. Hoje separados pelas milhas, decerto pelas lágrimas e promessa de uma amizade desinteressada penso no amanhã e no significado presente do “Amor” depois de ruminar Vanity Fair. Assim, pergunto ao meu inconsciente, de forma retórica, se, na verdade, já amei alguém além da minha mãe, madrinha, e irmãos. Fiz as contas, deitando obviamente os não fora. Mas, o resultado em nada se compara ao de Willian Dobbin: eterno, alimentado silenciosamente durante dezoito anos, sem murchar e caracterizado pela incondicionalidade de uma entrega genuína à sua aficionada Amélia, noiva (e agora viúva) de Georgy – um soldado morto em combate contra Napoleão, na Bélgica, um egoísta que casara para cumprir uma promessa e tratava a esposa com indecência. Estes são alguns dos pecados do defunto descobertos pela viúva com lágrimas, ranger dos dentes, arrependimento e socos no travesseiro da consciência.
Com efeito, este fenómeno nos é familiar, caro leitor/a. Pois, de certa forma acontece diariamente às “Amélias” que apesar de puras, sôfregas, espirituais e amante incondicionais são trocadas pelas “Beckys Sharps” (belas, astutas, malignas, frias, calculistas e estrelas de todos os palcos) que causam dores de cabeça a quem as escolhe. Pergunto se será, portanto, próprio da natureza humana e, sobretudo, masculina fazer “escolhas pirotécnicas” que à partida apresentam uma probabilidade elevada de mandar o escolhedor para as urtigas, explodindo-o. Será isto a dita adrenalina ou antes masoquismo? Sem entrar em discussão prefiro pegar no The African Queen, de C.S Forester e amar uma certeza: a minha África bela e sofredora. Não será isto sadomasoquismo? Uma estranha forma de amar, responderia um céptico…
Luciano Tavares Silva

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