terça-feira, abril 25, 2006

Em Abril, Aniversários Mil

Foi à um ano que tudo começou. Estamos em festa!!! O meu Blog, Media & Educação comemora, no dia 25 de Abril, o seu primeiro aniversário. Importa, ainda, salientar, que o seu autor é, também, aniversariante, bem como, Portugal que se comemora, formalmente, a liberdade (ou seja, 32 anos de democracia). São, neste sentido, três razões para se acender e apagar uma tantas velas.
Em relação ao Blog, convido o leitor a navegar pelo seu conteúdo – que retrata temas vários, mas sempre fiel à ideia basilar que esteve na sua génese: Somos o que Lemos, mas também aquilo que Discutimos.
Este Blog não tem a pretensão de abarcar tudo, o que é, por um lado, sinal de bom senso e, por outro, indício de humildade. Visa, somente, à partir da mensagem veiculada nos Media (jornais, livros, rádio, televisão, internet, revistas) falar sobre a Educação. O olhar privilegiado nunca é neutro, dado que a neutralidade é um conceito utópico, mas procuro ser coerente com os valores e princípios que constituem as pedras basilares da minha formação pessoal e social.
O meu primeiro artigo de opinião no Media & Educação – O último Dinossauro – surgiu em resposta ao Vasco Pulido Valente, colunista do jornal Público, sobre o comportamento dos portugueses, a quando do desaparecimento físico do Álvaro Cunhal. Passou, no entanto, um ano, mas o gosto pelo comentário ficou.
Para finalizar estas notas, convido o leitor a analisar o meu último comentário – Sonhos Negros – que constitui um olhar (africano) sobre a representação social dos emigrantes em Portugal. Boas leituras.

segunda-feira, abril 24, 2006

Sonhos Negros

Numa conversa de café, um amigo vira-se para mim e pergunta-me, num tom meio preocupado, qual é o futuro das crianças e jovens africanos nascidos em Portugal? Antes de o responder, pensei no método socrático e, depois, interroguei-lhe, como se ele fosse um especialista, o que é que lhe parece?
Na verdade, para responder a esta questão, aparentemente, filosófica e cartomántica nem é preciso ir à faculdade ou abrir os manuais da especialidade, basta ver o que se passa no quotidiano. A presença dos negros nas terras de Camões, remonta, praticamente, à travessia do Cabo Bojador (ou das tormentas como ficou celebrizado) no século XV, onde como prova do feito, foi trazido, à força, para Lisboa, cerca de oito negros. De então para cá, conhecemos toda a história da expansão e com ela a escravatura e, mais recentemente, a emigração à procura do sonho, duma vida melhor.
Ao abono da verdade que se diga, a representação que os portugueses construíram dos africanos, pouco mudou em relação ao período esclavagista. Estes são vistos como um ser, ou melhor, como um animal que nasceu para trabalhar, sobretudo, nas obras – abrindo estradas e construindo pontes para o futuro. Ao nível da escola, nunca acreditam que um negro, também pode, tal como eles, ocupar com as coisas do intelecto. Os “africanos” nascidos neste país, poucas possibilidades de sucesso terão, uma vez que as barreiras são tão fortes que, muitas vezes, os obriga a ter bom senso e a desistirem, ingressando, em certos casos, “por maus caminhos”, reforçando, assim, ainda mais, a sua representação social, bastante negativa.
A opinião do meu interlocutor foi de que basta ligar a televisão, ouvir os professores, falar com a policia, analisar as políticas de ou para a emigração, sair à rua, ir à uma entrevista de emprego, ir a um bairro dito “degradado”, ouvir os empregadores para perceber quão negra é a esperança de uma criança e de um jovem para a sobrevivência numa sociedade onde são estigmatizados por causa da cor e da sua herança genética. Muitos pseudo críticos, dizem que o racismo não existe; que preto ou branco, somos todos iguais e que, inclusivé, os primeiros escravos até foram brancos, mas a verdade é que a vida dos africanos piorou com a travessia do “cabo das tormentas” e, ainda hoje, sofremos com esse tormento.
O sonho dos filhos dos imigrantes num país que os reconheça como cidadãos de segunda, deixa-lhes poucas margens para progredirem rumo ao sucesso, dado que os nega um princípio tão básico, como, por exemplo, o direito a serem pessoas. Apesar deste quadro sombrio, diz o poeta que o sonho [ainda que negro] comanda a vida [ou melhor, a sobrevivência].

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quarta-feira, abril 19, 2006

Viajar na Estrada: entre a necessidade e o medo

Quando estou no comboio, à caminho das terras do Sado, imagino como são as planícies alentejanas, as praias do Algarve, os camonis de albufeira, o zoo marine, a ilha da culatra, entre outros encantos. Na véspera da Páscoa tive a alegria de viajar rumo ao Sul.
A viagem foi longa e tranquila; com os olhos postos no vidro do carro, aprecei tudo quanto era agradável à vista desarmada. No entanto, o meu íntimo estava cheio de medo, devido aos acidentes que vitimam todos os dias quem anda na estrada e cujo cenário é aumentado, pela comunicação social, sobretudo, na época das grandes festas. Contudo, disfarcei muito bem o meu receio e, por isso, ninguém deu por ele.
A viagem “rumo ao sul”, roubando a expressão de Miguel Sousa Tavares, não serviu para dissipar totalmente a minha curiosidade em relação à região sul, mas foi um primeiro passo nessa direcção.
Na altura do regresso à casa, e após ter tomado conhecimento do fatídico acidente que vitimou o jovem actor Francisco Adam, celebrizado pela série televisiva Morangos com Açúcar, mais uma vez, a minha fobia de andar na auto-estrada aumentou. Esse acontecimento, entristeceu, não só, os jovens com epíteto de “geração morangos com açúcar”, mais também, todos àqueles que, como eu, partilham da opinião de que os acidentes nas estradas portuguesas, constituem uma verdadeira guerra civil, com muitas baixas diárias.
Todavia, gostaria de salientar um facto digno de registo na sequência da morte deste actor. Estava junto com alguns adolescentes quando soube do ocorrido e constatei que o sms, via telemóvel, terá sido, provavelmente, até à hora dos (tele) jornais da noite, a fonte mais eficaz de informação entre os jovens. O que vem dar, uma vez mais, razão a Castels e Mcluhan sobre a ideia da sociedade em rede e do papel dos self media, enquanto meios de difusão massificada da mensagem.
A comunicação social acabou por fazer zoom do desaparecimento físico do jovem actor (embora, morra todos os dias o Zé povinho), e retomou a discussão sobre a representação morte na adolescência. Alicerçou, contudo, a ideia que de falar sobre o acontecido constitui uma forma pedagógica de educar para os perigos de andar na estrada.
Viajar na estrada tornou-se uma necessidade e um prazer, cada vez mais, alimentado pelo medo do risco do não regresso.

quarta-feira, abril 12, 2006

“Palmadas que Educam”

A estação de rádio TSF acordou-me com uma notícia curiosa. Um juiz do tribunal de Setúbal produziu um acórdão inédito, onde iliba uma arguida, auxiliar de educação num centro que acolhe crianças portadores de deficiência mental, acusada de maus-tratos físicos às crianças (por as ter dado palmadas nas nádegas).
O argumento do juiz baseou-se no pressuposto de que dar umas palmadinhas nas nádegas das crianças, constitui um acto normal no processo educativo e, por essa razão, considera-as inofensivas, dado o seu carácter esporádico.
Este assunto vem retomar uma antiga discussão sobre o valor das punições físicas na educação das crianças. Do lado da Pedagogia e da Psicologia, surgiram propostas (inovadoras) de punição pelo princípio das consequências naturais, por se considerar que a traumatologia associada à agressão acompanha o indivíduo, neste caso, a vítima, por toda a vida.
Nem sempre, o entendimento dos educadores foi assim, todos lembramos dos castigos corporais que fomos sujeitos na escola. Muitos abandonaram precocemente a escola à conta desses castigos, com o conceito de si e escolar bastante negativo, o que os faz, ainda hoje, recordar a escola com mágoa, em vez de saudade.
Quem lida com crianças, sabe que elas são eléctricas, persistentes, com o metabolismo celular muito acelerado e, por vezes, muito irreverentes. O que, normalmente, deixa os adultos com os cabelos em pé. Contudo, são crianças e a brincadeira é o melhor que podemos oferecê-las, uma vez que se afirma que caso não brinquem nessa idade, tendem a ser adultos infelizes.
Voltando à decisão do juiz, à segunda vez quando escutei a notícia, por coincidência, no comboio, a caminho de Setúbal, apercebi que as crianças vítimas das "palmadas que educam", afinal, são portadoras de deficiência mental. Por essa razão, o meu estado de choque foi, ainda, maior.
As crianças merecem todo o nosso respeito e consideração. Enquanto adultos, a nossa função é garantir-lhes as condições básicas para um desenvolvimento equilibrado. Gostaria, no entanto, que o juiz em causa me explicasse até que ponto bater numa criança deficiente mental faz parte do processo normal de educação?

terça-feira, abril 11, 2006

A Gravidez Precoce na Escola Cabo-verdiana: sob um olhar pedagógico

Ontem estive a ler um livro sobre o ensino básico em Portugal que aponta o fecho das escolas rurais ou isoladas como um dos problemas do sistema educativo, a par de outros. Até aqui, nada de novo. De repente, ligo o televisor e vejo a passar na RTP África uma campanha de sensibilização sobre os cuidados materno-infantis, mais concretamente, a prevenção da gravidez (em Cabo Verde). O meu espanto foi o seguinte: enquanto em Portugal um dos grandes problemas do sistema educativo, sobretudo, no ensino básico é (re) organização da oferta educativa devido à diminuição de alunos, em Cabo Verde, o problema é de natureza inversa: é necessário organizar a rede escolar devido ao excesso da procura.

A taxa de escolarização em Cabo Verde, segundo dados das Nações Unidas e do Governo cabo-verdiano, é superior a 70%. Esta taxa para ser mantida exige do Estado um esforço financeiro considerável dado que o crescimento desmesurado da população obriga a construção regular de novos equipamentos pedagógicos. Este crescimento, levanta, como se deve depreender, problemas ao nível da qualidade da oferta educativa, sendo este um assunto que, pela sua natureza e problemática exige uma posterior reflexão.

Neste momento, importa analisar a questão da elevada percentagem de alunas que engravidam em idade escolar, sobretudo, no ensino secundário. O problema é agudo e a sua resolução complexa. O Ministério da Educação, ciente da relação entre a gravidez precoce e o abandono escolar, entendeu permitir às alunas o direito de anularem temporariamente a matrícula.

A solução acima referida constitui, por um lado, uma forma ligeira de minimizar os danos (“evitar o mau exemplo”) e, por outro, parece estar ferida de constitucionalidade. Todavia, voltando à campanha que está, neste momento, a passar no canal que fiz referência no início do presente texto, importa salientar que, a grosso modo, o seu efeito positivo, depende de uma abordagem sistémica ao problema em análise, algo que nem sempre é privilegiada pelas autoridades. Por outras palavras, convêm salientar que se afigura, na minha opinião, vantajoso haver dentro das escolas gabinetes de aconselhamento aos alunos (de ambos os sexos); que as direcções das turmas desenvolvam estratégias sensibilização e prevenção da maternidade precoce; que as equipas da saúde reprodutiva visitem, regularmente, as escolas onde poderão complementar a mensagem que está a ser passada na televisão e, sobretudo, envolver os pais e encarregados de educação nesta árdua tarefa. Enfim, é preciso educar diferentes gerações para um problema cuja tragédia é comum.

O envolvimento dos pais e encarregados de educação nas actividades escolares (dos filhos e/ou educandos) tem motivado muitos estudos. Na família, o papel dos mesmos é fortemente datado na literatura, sobretudo americana. Todavia, regista-se na sociedade cabo-verdiana um certo afastamento dos pais no apoio e/ ou acompanhamento emocional dos filhos. Esta situação acontece por falta de informação, diz uns e, por questões de "educação", dizem outros. Todavia, o termo educação deve ser aqui entendido no sentido lato: tem a ver com o processo de socialização que estes pais foram sujeitos pelos seus progenitores que, também foram omissos em lidar com a emoção dos filhos, educando-os muitas vezes à base de uma certa frieza e contenção emocional. Neste sentido, falar de sexualidade e das diferentes formas de a expressar, constitui uma tarefa espinhosa para a uma percentagem significativa de pais cabo-verdianos.

O aumento significativo da taxa de raparigas que têm filhos em idades críticas, obriga-nos, de certa forma, a pensar nas estratégias de formação de pais. Podemos começar pelos jovens pais e pelos futuros pais. Face à força das estatísticas produzidas nesta área importa começarmos a fazer algo no sentido de contrariar a tendência crescente da gravidez não desejada e gravidez planeada mas não desejada.

O número de raparigas adolescentes, em idade escolar que já são mães ou que para lá caminham constitui um fenómeno triste e visível a olho nú para quem vive ou se interessa pelo desenvolvimento do "país de pedras, poetas" [e músicos], segundo as palavras carinhosas do poeta cabo-verdiano, Jorge Barbosa.

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quarta-feira, abril 05, 2006

De Volta à África

O primeiro-ministro português, o eng.º José Sócrates, partiu para Angola, no dia 04 de Abril, acompanhado por uma comitiva composta por 70 individualidades portuguesas (da área financeira e da construção civil). O objectivo desta visita, segundo os meios de comunicação social, visa estreitar as relações económicas com este país da África austral, antiga colónia portuguesa.
Para lá das questões formais e protocolares, o propósito essencial dos empresários e do governo de José Sócrates é disputar com as empresas chinesas e sul-africanas, as potencialidades da riqueza fácil que o país de Agostinho Neto oferece.
O final da guerra civil; o crescimento económico, na ronda dos 20%, anuais; o elevado preço do crude no mercado internacional; a facilidade de corrupção, entre outras condições, constituem as janelas de oportunidades para a exploração de Angola (entenda-se, de uma forma eufeminizada, do seu mercado). Para as empresas que pouco preocupadas estão com o efectivo desenvolvimento do país onde investem, o mercado angolano há muito tempo que tem sido a presa apetecível para matar a fome insaciável dos corruptos e capitalistas estrangeiros.
O exemplo do domínio da Portugal Telecom e da EDP, em Cabo-verde, nas empresas Cabo-verde Telecom e Electra, sucessivamente, constituem, apenas, dois exemplos de como as empresas da terra do Sr. Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral se aproveitam, sem escrúpulos, dos países em crescimento para os (re) colonizar (economicamente), à custa do lucro fácil. Neste momento, as antenas estão voltadas para Angola:uma prioridade nacional, diz Sócrates.
Esta nova forma de colonialismo, fruto da globalização, encontra-se camuflada nos projectos de cooperação, nas ajudas públicas ao desenvolvimento; onde se aplica, perfeitamente, o princípio jurídico de que tudo tem um preço. O pagamento das dívidas externas, bem como dos juros das “ajudas públicas ao desenvolvimento” ou empréstimos são apontados como um dos factores que mais contribuem para afastar os países do Sul dos do Norte. Por outras palavras, é esta a razão pelo qual os países subdesenvolvidos ou ditos periféricos nunca se libertarão do laço que os prende aos países ditos ricos (antigas ou novas potências colonizadoras). Por isso, o atraso do sul é inevitável.
No momento que escrevo estas linhas, os habitantes de Angola devem estar alegres, felizes com a presença dos 70 portugueses; nos media, as notícias, provavelmente, só se resumem a este acontecimento; todos devem estar curiosos para verem o primeiro-ministro português a fazer jogging na marginal de Luanda. Tudo isso parece uma festa; para mim, não passa de uma tragédia grega. Três décadas após a independência política, seis séculos depois da expansão marítima, os portugueses estão de volta à África...